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sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Sem preconceito

O Funk como instrumento da luta contra o racismo

 funk

 

    Walmyr Júnior, integrante do Coletivo Enegrecer, escreveu artigo para o Jornal do Brasil defendendo a importância do funk como cultura e na luta contra o racismo. Walmyr discute as opressões existentes dentro do próprio discuso do funk, como o machismo e a relação com os traficantes, mas afirma: “O funk é uma expressão cultural de protagonismo da juventude negra e da representação do seu cotidiano”

Funk, racismo e periferia

    Vez ou outra vemos ressurgir, sobretudo nos espaços de militância, a eterna discussão classista e elitista: “Mas, o funk é cultura?”. E ficamos sempre atordoados com a quantidade de indagações que são criadas como alternativas de resposta para a deslegitimação de algo que vai bem além do “tchugudchugudá” e dos “dingdins”.

    Então, “cola” aqui que vamos fazer uma viagem no tempo e trocar uma ideia da importância do funk pra negritude e o quanto é um instrumento imprescindível na luta contra o racismo.

    A partir dos anos 70, os tradicionais bailes blacks chegaram ao Brasil, em especial no Rio de Janeiro, como uma das culturas mais difundidas pelos artistas norte-americanos, embalados pela “soul music” e influenciados pelas experiências de organização de espaços, em que negros e negras se reuniam, colocavam em dia seus assuntos, vivências e perspectivas de vida. Passamos a enxergar então que tais bailes se reproduziram ao longo do país, mas no caso do Rio de Janeiro com uma roupagem diferente: o ambiente geográfico.

    Com a abolição da escravatura e, posteriormente, a derrubada dos cortiços no Centro da cidade, o Rio de Janeiro sofreu grandes transformações urbanas ao longo das últimas décadas, que culminaram nos processos de remoção, periferização e favelização da população negra. A falha na prestação dos serviços que deveriam garantir condições mínimas de qualidade de vida e preservar a dignidade da pessoa humana, por parte do Estado, deixaram um vácuo o que deu ao funk espaço para se consolidar não apenas como uma música, mas como instrumento de expressão e uma “válvula de escape” do cotidiano dos morros cariocas.


    “Mas o funk promove opressões também” – Sim, promove sim. Promove porque as pessoas que cantam o funk também compõem uma sociedade capitalista que em sua estrutura é fincada no patriarcado como referência inicial e matriz da construção das relações.

No entanto, reduzir o funk apenas a um estilo musical machista e opressor é desconsiderar todas as possibilidades de ascensão social, criações coletivas, construção de uma identidade, amor pelas comunidades que vivem, demonstrações de afeto pela “rainha do baile”, pela morte do amigo ou pela denúncia das mazelas sociais, a roteirização de um espaço esquecido, abandonado e fadado a autodestruição.

    Assim como reduzir o protagonismo tão importante das cantoras e Mc’s como: Tati Quebra-Barraco, Deyse da Injeção, Mc Marcelly, Sabrina e Valesca Popozuda, que por meio do funk conseguem dialogar com grande parte das mulheres negras que vivem em periferia, fazendo dessas mulheres protagonistas de suas histórias e mostrando a forma como lidam com a dor de ser mulher em uma sociedade machista e patriarcal.

 
    “Mas o funk enaltece a figura do traficante e as organizações criminosas” – Já se perguntou porque a estrutura da facção criminosa é mais deslumbrada que os cargos de primeiro escalão de um governo? Sim, ao fazer parte do narcotráfico esses indivíduos passam a ter voz, poder, chance de intervenção direta na construção de algo em que acreditam. Isso é bom? Não! Definitivamente, não! Mas, será que estamos problematizando e reinvertendo bem a lógica da pirâmide?

    E é claro que a figura do traficante será enaltecida nas periferias, é ele quem castiga sendo ele, também, quem distribui o remédio da vizinha que não foi fornecido pelo Estado e com o qual ela não tinha condições de arcar. É o herói e o anti-herói que caminham lado a lado, faces da mesma moeda. Isso só acontece pela ausência do Estado, durante todo processo de estruturação das relações sociais dentro de cada comunidade, favela. A ausência do Estado legítimo para a sociedade em geral, possibilitou o surgimento de um Poder Paralelo que se organiza sobre as relações de poder ditadas pelo dia a dia e realidade daqueles que vivem nesses espaços.

    Compreendendo isso, nós militantes que nos colocamos na esquerda, acreditamos que para a construção de um novo mundo é necessário o combate as opressões como o machismo e homofobia, porém tal objetivo não deve seguir silenciando a voz de um grupo, tradicionalmente, oprimido pelas estrutura do capital.

    Quando pensamos em redefinir o funk, dizendo àqueles e aquelas que produzem essa expressão cultural em suas várias frentes, MCs, DJs, dançarinos, como forma de resistência e “válvula de escape” para suas mazelas cotidianas, não servem para a construção dessa nova sociedade, para o asfalto. Redefinir o funk para utilizá-lo como instrumento de luta de outro grupo oprimido é apropriar-se desta cultura fazendo silenciar toda a sua história, mantendo-o á margem da sociedade.

    Não há dúvidas de que o debate sobre as opressões deve ser ampliado, tal qual a naturalização em diversos espaços de nossa sociedade, porém temos que compreender e dialogar com as mais diversas formas de organização da juventude, seja entre os movimentos tradicionais e seus espaços de disputa convencionais, mas principalmente se abrir e dialogar com os movimentos culturais como o funk, os quais se organizam de forma não tradicional, e estão disputando os rumos da sociedade em outros espaços.

 
    O funk não reproduzirá a opressão, a partir do momento em que tivermos uma hegemonia social que estabeleça novas relações entre os indivíduos que compõem nossa sociedade. O funk é uma expressão cultural de protagonismo da juventude negra e da representação do seu cotidiano.
fonte: ig.com.br

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