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domingo, 7 de junho de 2015

Garrafas decorativas ( Artes)

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sexta-feira, 20 de março de 2015

30 vivências de garotas adolescentes (leiam)



 


 Primeira  
Sem o Glamour de uma garota
Manhã de sábado e estou acordando com o grito descontrolado da minha tia chamando para alguém abrir o portão. Maldita é essa entrada de minha casa! Tinha essa entrada ser logo próxima à janela de meu quarto?
O silêncio voltou a reinar, após eu ouvir o cadeado ser retirado do portão, seguido do arranhar das correntes pelo ferro dele.
Estou tão perdida em pensamentos que não consigo imaginar que horas são. Apenas quero concentrar-me na noite que acabara de passar. A social esteve muito boa ontem. Lá somente tinha gatinho e a música eletrônica estava de primeira. Sem falar que o DJ era lindo e único. Porém, todas as garotas conseguiram o deixar esnobe por causa das cantadas horrorosas delas sobre o coitado.
Sei que tenho que abrir os olhos, pois não demora e a minha mãe me chamará para passear com a Kika. Ela é uma vira lata muito fofa que temos.
 Mas, hoje não quero ir. Meu corpo parece que está pesando uma tonelada e meus olhos estão grudados de tanto sono.
Viro-me de um lado para o outro, a fim de mover os músculos que estão sem vontade de contração. Logo após, resolvo admirar-me no espelho. Quero ver se estou com muita cara de acabada para o novo dia.
Primeiro, abro um olho e com a mínima vontade abro o outro. Morri! Quero gritar, mas não consigo. Estou paralisada com a imagem aterrorizante que acabei de ver no espelho. Esse não é o rosto de uma adolescente de 15 anos que está à minha frente, e sim, a figura de um zumbi em crescimento. Quero chorar, reclamar por causa do que vejo refletido no espelho.
Como estou desesperada. Não quero mais ver o sol, não quero ver ninguém. Somente necessito ficar em meu quarto escuro.
Minha cabeça, contudo, começa a fervilhar de pensamentos. “E agora, o que irei fazer? Como irei à escola? Todos, falarão: O que atropelou aquela garota? Era tão bonitinha e agora está dando medo de tão feia.”
Enrolo-me com muita insegurança no lençol e escondo minha cabeça debaixo do travesseiro. Nesse momento, uma lágrima consegue fugir do meu olho esquerdo acompanhada de tais tormentas mentais que saem de meus lábios trêmulos:
- Agora meu namorado não vai mais me querer. Ah, Deus! Por que estou sendo castigada assim?
Imersa nesse imenso desespero e tendo as lágrimas como companhia, eu somente quero morrer. Ninguém imagina como estou agora. O meu olho direito está todo inchado e a pálpebra está meio que caída por cima dele.
Após terem já se passado longos minutos de desespero, resolvo levantar e ligar para a minha amiga. Eu preciso de alguém que me entenda e que me acalme.
Estou discando com muita dificuldade e essa chamada parece durar uma eternidade.
Alô! Por favor, amiga. Venha até aqui. É urgente. É caso de beleza ou morte. Estou morrendo no meu quarto. Basta chegar e entrar.
 
- Já estou indo! Vou correndo. Beijos!
Como a curiosidade das pessoas é grande. Minha amiga nem perguntou o que tinha acontecido comigo e logo vem correndo, a fim de ver qual é a minha desgraça.
Três toques na porta. E o ranger da dobradiça rompe o silêncio que naquele momento era meu melhor amigo. Agora minha amiga me verá com a alma exposta. Justo eu, a perfeitinha do colégio.  Como está doendo a minha alma”.
Não consigo tirar o travesseiro da frente do meu rosto. Tenho receio que ela julgue o monstro de amiga que agora ela tem.
- Estou aqui. O que foi? Qual é o babado?
Exibi, enfim, o meu rosto e como não quero ver a expressão de piedade dela. Somente tenho coragem de abrir os olhos após ouvir o romper dos meus tímpanos, com a estridente gargalhada dela.
Com uma cara de deboche, ela examina o meu rosto. Eu não consigo falar qualquer palavra. Meus lábios pareciam estar colados. No entanto, de repente, começo a rir e a chorar ao mesmo tempo.
- Você está com uma alergia e tanto, amiga. Olha, tenho uma péssima notícia. Está com alergia à maquiagem e terá que deixar de usá-las.
Essas palavras são as piores já ouvidas por mim, em toda a minha existência. Como assim? Eu não poder usar mais meus batons, blush. Imaginem estes meus olhos azuis sem as máscaras de cílios. Eu jamais conformaria com aquelas palavras. Agora eu serei chamada de a garota apagadinha. Todos na balada iriam indicar-me como referência, dizendo bem assim: “aquela garota sem brilho e sem o glamour de mulher”.
Disparo a chorar novamente, como quem perde tudo na vida, e minha amiga me abraça, dizendo:
- Calma, minha amiga! Nada como um antialérgico para ajudar a acabar com essa aparência.
Não, ela não entende. Não era mais o meu rosto que me incomodava naquele momento. Mas sim, o fato de não poder usar mais a minha querida maquiagem. Pois, mesmo transfigurada na aparência, nada como uma base ou umas sombras, não resolvessem. Mas, a vida estava tão cruel comigo, que neste momento, nem isso estará beneficiando-me.
Minha amiga, vendo a minha dor, se aproxima com um pequeno espelho. Ali vejo meus olhos inchados, minha pele da bochecha descamando igual a uma cobra trocando de pele. Os meus lábios estão de dar inveja a qualquer mulher que desejava fazer implante de Botox. Porém, o pior de tudo é a tal coceira desgraçada que estou nos olhos.
O tempo nessa manhã disparava em alta velocidade e minha amiga teve que ir embora. Enquanto isso, eu fiquei trancada no quarto. Somente me olhava e ao mesmo tempo, despedia de meu amigo querido estojo de maquiagem. Era o fim de nossa relação íntima como de costume. Era hora de despedir de cada peça. Sinto, portanto, que estou despedindo de parte de mim. Agora a minha vida ficará sem cor, sem brilho e nenhum destaque. Concluo, portanto, de como é difícil despedirmos daquilo que mais amamos.
Adormeço sufocada com aquela dor imensa em meu peito. Apenas resolvo acordar, pois a minha mãe está me chamando para tomar um remédio.
 
Já perceberam como as mães são as salvadoras de nossas vidas? Elas, além de nos trazer a este mundo, ainda têm a solução para todos os nossos problemas.
- O que foi com esse rosto. Está meio diferente da filha que conheço.
           -Mãe! O que eu faço agora? Viu como a sua filha está defeituosa e apagada?
Ela, com um sorriso angelical e voz terna, disse:
- Fica tranquila, filha! Vou levá-la a um dermatologista e sei que uma maquiagem de melhor qualidade irá resolver esse problema.
- Sério? Posso continuar sendo uma garota cheia de glamour. Nossa, que susto eu tive da vida hoje.
- Fica tranquila, filha minha.
Depois de ouvir isso, sorri aliviada e vi que naquele momento todo o meu dilema seria resolvido. Voltei a sorrir. Graças à minha mãe.

Segunda
Mico de festa
Meus 15 anos foi tão especial e marcante como de toda garota que conheço. Passamos os 12 últimos meses que antecede a data do aniversário, somente sonhando com a nossa festa que com certeza seria maravilhosa e perfeita.
Quando o dia se aproximou, eu já estava muito ansiosa. Mas, o que estava me apavorando mesmo, naquele momento, era imensa tranquilidade de minha mãe. A sensação que todos percebiam era de que não teria uma festa com tamanha proporção naquela casa. Cheguei também a pensar nisso, pois todas as vezes que eu questionava sobre os preparativos da festa, a resposta era sempre a mesma de minha mãe. Ela me pedia calma, pois na hora certa, tudo seria resolvido. Aquilo me matava, pois eu queria ver a minha mãe se descabelando como a mim, pelo fato da aproximação da festa.
Então, chegou o grande sábado. Entrei no salão e lá estava tudo tão brilhante e singelo. Eu sentia que não estava acreditando que aquele momento, enfim, tinha chegado. Logo, eu estava vivendo minha tão sonhada festa de 15 anos.
Rapidamente os parentes, amigos e “amigas invejosas”, aos poucos iam passando pelo salão e me cumprimentando. Devido a certas pessoas naquele meu ambiente, pude constatar que, numa festa, nem sempre temos o direito de convidar somente as pessoas que nos são agradáveis. Falo isso, porque as tias, irmãs e até nossa mãe sempre falam: “Temos que chamar a filha de fulana de tal porque somos grandes amigas, senão vai ficar chateada comigo se não a convidarmos. Temos também que convidar todas as minhas amigas da igreja. Se elas souberem que teve a sua festa, pode ter certeza que elas vão reclamar comigo que não foram chamadas”.
 Até a sua irmã pirralha se sente no direito de convidar as amigas dela. Conclui-se, com isso, que os preparos de uma festa são tão marcantes quanto à própria festa.
As horas vão se passando e a festa vai rolando num ritmo frenético.
 Na pista, a galera já tirou o salto e logo aquela pompa toda de início, já não mais existe. O que está no comando agora é o álcool. Ele está se ligando às partes do corpo e deixando o cérebro encharcado e sem oxigênio. Mas, essa é a festa de minha vida e vamos dançando sem julgamentos. Vamos, portanto, seguindo a energia da música sem se importar com o controle rígido do corpo.
Por mais que acabei de comentar sobre o descontrole das pessoas sobre o efeito do álcool, não é isso que mais me intriga nelas. A inocência e as atitudes das crianças me deixam, às vezes, muito assustada. Falo isso, pois como tudo que vivi em minha festa, tem um episódio que será bem marcante. O fato traumático foi devido à atitude de uma menina amiguinha pirralha de minha irmã.
 
O babado é o seguinte, mas vou contar como se eu estive vivendo aqueles momentos. Será como se eu estivesse agora na festa.
 Estava exausta de tanto dançar e refazendo, ao mesmo tempo, o fato que acabara de acontecer. A traquinagem dela ocorreu dentro de frações de segundo, mas sei que ficarão marcados para sempre em minhas memórias.
Não queria pensar em nada que me aborrecesse e desejei logo voltar para a pista, mas este mico me travou e não saía de mim.
Estou agora, portanto, perguntando-me, seguidamente, sobre como posso ter passado por isso em minha festa de 15 anos. Será um capricho do destino para lembrar que, mesmo nos momentos felizes, podemos sofrer algum ato de descontentamento? Por que logo agora essa agonia? Por que logo, hoje?
Minhas amigas estão me observando e devem ter percebido minha desolação em minha festa de 15 anos. Elas se aproximam e me puxam para levantar da cadeira. Logo querem saber o que está acontecendo comigo. Após um respirar fundo, resolvi chamá-las para um canto mais tranquilo, e conto todo o ocorrido:
- A pirralha, amiga da minha irmã, simplesmente chegou até a mim e sorrindo, deu um puxão no meu vestido para baixo. Agora já imaginaram o que pode ter acontecido. Perceberam que estou usando um tomara que caia? Então, o resto vocês já sabem.
- Nossa, amiga! Alguém viu?
- Apenas todos os homens que estavam sentados lá naquela mesa que está na entrada à direita do salão. Todos eles são amigos de meu pai. Que mico!
Depois desse babado divulgado para elas, acabei sentindo-me pior. Tive, portanto, que ficar aguentando as “piadinhas” de todas elas, que riam e comentavam:
- Relaxa, amiga! Você está desabrochando para o mundo mesmo. Agora não vai ficar mais constrangida quando estiver nua para alguém.
- Bem animador! - eu dizia.
- Somente viram o que é bonito. Vamos dançar e esquece isso. Amanhã nem vai lembrar mais dessa história. É sua festa!
As horas não passam e apenas queria ir para a minha casa. Mas, ao mesmo tempo, estava desejando com toda força, que aqueles homens nunca me encontrem depois da festa. Senão, até sei os pensamentos deles qual seriam ao me verem:Olha se não é aquela garota, filha de meu amigão, que deixou os seios à mostra”.
Sei que vou ficar um bom tempo sentindo vergonha de parte de minha festa de 15 anos. Vejo, portanto, o que deveria ter ficado marcado em mim, é a alegria dessa única festa especial na vida de uma garota. Mas, infelizmente, isso não aconteceu. Fiquei com um trauma por causa de uma pirralha sem noção.

 
Terceira
Amor, destino. Destino, amor
Toda semana é a mesma coisa. Chega domingo à noite e bate aquele desânimo. Acontece isso, porque já sei que a correria dos estudos começará no dia seguinte. Somente quem sabe o que é se preparar para um vestibular tão concorrido como é o de medicina, é capaz de me entender.
Amanheceu e o despertador do celular grita desesperado mais de três vezes. Esse curto tempo, é o que eu levo para conseguir abrir os olhos e ao mesmo tempo, processar o que está acontecendo a minha volta. Depois, conto até cinquenta e aí, começo a esboçar um pequeno movimento com meu corpo. Mas logo, já começa a pior disputa que ocorre entre o sono e o meu consciente. Este diz o tempo todo que tenho que ir para aula. Contudo, o pior, são os olhos que só querem mais um pouquinho de descanso. Mas a voz incansável do consciente continua dizendo: ”Acelera porque tem que estar no ponto de ônibus que passará às 7h:15hmin”.
 Ter que ouvir isso todos os dias dentro de nossa cabeça, é a maior tormenta que uma estudante pode ter. 
Não sei o motivo pelo qual, das aulas começarem tão cedo. E também, não concordo com o fato de sair do colégio ao meio dia. Nessa hora, já deveríamos estar em casa, pois a fome já está corroendo todo nosso estômago, juntamente com o nosso raciocínio. Devido a isso, adeus a nossa concentração nos estudos.
- Olha o ônibus, filha! Está na hora de se levantar!
Esta é a minha mãe quebrando a rotina dos meus pensamentos matinais rebeldes. Quase todos os dias, é isso que escuto logo cedo.
Sempre tento levantar da cama, mas o travesseiro insiste em grudar na minha cabeça. E o lençol? Este já é a minha segunda pele, pois assim que acordo ele não sai de mim. Ter que tirar ele causa uma dor horrível. Então, muitas vezes, para me livra dessa dor, ele sai me acompanhando pela casa toda. Também faço isso, porque ele vive me pedindo com sua voz sonolenta para não deixá-lo só. E se não faço isso, logo escuto sua chantagem através, dos murmúrios: “Até esse momento eu estava dividindo e protegendo os seus sonhos por uma deliciosa noite. Sua cruel ingrata!”
 Enfim, ter que romper essa ligação que é quase que um triângulo amoroso entre mim e o lençol, será necessário uma sessão psiquiátrica.  
Nesse enrolar todo, acabo sempre atrasada e mal consigo tomar um café da manhã. Tudo acaba sendo uma correria total. Somente mesmo os gritos de minha mãe dizendo que estou atrasada e o desespero para terminar de fazer tudo a tempo, para conseguir sair no “horário certo” para a escola.
- Mãe, você viu minha folha com exercícios de história? Alguém viu o meu estojo? Tinha uma folha aqui com exercícios de matemática nessa mesa?
         Sempre são assim todas as minhas manhãs durante a semana. Portanto, logo que tudo já está na mochila, dou um beijo rápido em minha mãe e não vejo mais ninguém à minha frente. Quero assim, é ver as horas e fazer o cálculo da velocidade que meus passos precisarão ter, até chegar ao ponto de ônibus.
Estar à espera de alguma coisa ou alguém é uma atitude na qual, não gostamos muito. Isso causa agonia, desconforto e ansiedade. Quando estamos nessa situação, já começamos a olhar e observar tudo a nossa volta, a fim de que a espera seja menos tediosa. Começo logo, pela minha roupa a fim de ver se ela está de acordo com uma boa imagem de uma garota. Depois, começo a observar aos demais que estão no ponto de ônibus. E ao fazer isso nesse exato momento, notei que tem alguém com um perfume masculino e muito gostoso. Olhei e vi que pertence a um gatinho que está do meu lado esquerdo. Cheguei com tanta pressa que passei por ele e nem o notei.
Os segundos vão se passando e começo a ser atormentada com esta presença masculina. Já na minha primeira observação, notei que era lindo. Que é, portanto, o meu número.
Quero ficar olhando para ele, mas sei que é uma péssima ideia. Queria saber se ele me notou ao me virar para observá-lo. Vi que ele também me olhou, mas será que me registrou? Eu o notei tanto que pude perceber que tinha olhos cor de mel. Olhei para ele pela segunda vez de forma disfarçada e fiquei meio que em transe. Somente acordei dele, porque o garoto sorriu e me cumprimentou.
Como é bom logo cedo ter uma visão de um deus grego. Quando isso ocorre, o nosso dia fica mais vibrante.
Às vezes, fico sem jeito perto de uma presença masculina. E nesta hora eu estava desnorteada ao extremo, que até esqueci que estava esperando “bus” para a escola. O garoto é tão bonito que quero logo levá-lo para casa. Quero-o somente para mim.
Nessa hora, me questiono sobre o fato de querer, desejar quem eu nem conheço. Nem ao menos sei nome dele, telefone ou se tem chulé, namorada e emprego. Mas, apesar disso, sei uma coisa bem particular dele, o seu cheiro.
Rezo e começo a torcer para que ele entre no mesmo ônibus que o meu. Como não sei por quanto tempo minha estadia nesse ponto durará, quero, portanto curtir esses momentos somente o observando. Logo, penso que estou maluca com tudo isso. Mas a maluquice maior é querer saber se ele ficou mexido por mim, o quanto estou por ele.
Eu queria poder tocar em suas mãos e segurar o seu braço bem forte. Depois pedir para que não fosse embora. Desejo poder olhar em seus olhos e perguntar em que vida nós nos encontramos antes.
Estes pensamentos acabaram deixando minha respiração ofegante e as mãos muito geladas. E para melhorar desse descompasso corporal, resolvi virar às costas para ele. Não quero que perceba o meu descontrole. Mas tenho a impressão que ele percebeu mesmo assim, pois a minha inquietude estava exagerada, por isso, resolveu falar comigo:
- Sabe se o ônibus para o centro da cidade passa por aqui?
Tentei responder de imediato, mas a voz me abandonou por alguns segundos. Depois meio que sem forças, consegui dizer um “Sim”.
- Se você está esperando o ônibus que vai te levar para o colégio, parece que está vindo ali. – ele disse com uma voz macia e grave.
Queria tanto que ele não tivesse me informado sobre isso. Eu desejaria que não existisse, naquele momento, nenhum “bus” e muito menos, escola.
O barulho da porta do ônibus se abrindo à minha frente foi o pior barulho que já escutei. Logo, questionei o fato de como um meio de transporte tão comum, teria o direito de atrapalhar o encontro raro de entre duas almas gêmeas.
Mostrei a carteira de estudante para o motorista e procurei a primeira janela vaga do lado esquerdo da entrada. Queria com isso, vê-lo mais um pouco parado naquele ponto de ônibus. Mas, para surpresa minha, o meu príncipe não estava mais lá. Parece que tinha pegado o ônibus que vinha logo atrás do meu.
Então, o desânimo e a tristeza tomaram conta de mim. A vida acabava de ser muito injusta comigo. Senti que aquilo era um capricho do destino. Ele me dá o amor e depois tira tão rápido e me deixa apenas com água na boca. O meu amor ficou soluçando em meu peito e eu não tinha uma forma de consolá-lo.

Resolvi fechar os olhos e tirar um pequeno cochilo até a escola. Mas, ao acordar-me, queria sentir mais feliz com a possibilidade de um novo encontro. Afinal, talvez a vida estivesse me dando um pequeno ensaio da peça principal de numa história de amor. Creio que brevemente a apresentação real poderá acontecer. Então, nesse momento será melhor me preparar para ser uma ótima atriz, nessa trama chamada vida.
 
Quarta
Como eu me vejo
O espelho não somente reflete a imagem externa de uma garota, como também, toda sua raiva, insegurança e saudade. Enfim, tudo que temos dentro de nós.
Talvez, se eu comentar essa observação com certas pessoas, irão dizer que é idiotice de uma garota adolescente. Mas, desde pequena, vivo observando minha imagem refletida em qualquer tipo de espelho.
Cresci em um meio onde a minha imagem estava sempre sendo refletida. Nossa casa era muito grande e minha mãe adorava colocar espelhos em vários cômodos. Por isso, cresci sempre observando as mudanças tanto de meu corpo, quanto de todo ambiente sobre o qual, eu estava inserida.
Minha vida então era muitas vezes, vivida através de uma imagem refletida e essa rotina estava sendo quebrada.
Percebi que eu estava afastando-me aos pouco, desses reflexos, nos últimos tempos. Isso acontecia, devido às mudanças em meu corpo.
Eu ficava vendo os móveis sendo trocados de lugar. As pessoas envelhecendo ou engordando, o tempo passando enfim, isso tudo, através de um espelho. Essas mudanças acontecendo com terceiros, é uma coisa, agora ficar vendo as transformações constantes em nosso corpo, é outra. Às vezes, não gostamos muito do que vemos em nós.
Tinha dia que queria quebrar todos aqueles espelhos que havia em minha casa. Não aguentava mais ver meu rosto cheio de espinhas, nem o peito crescendo. Muito menos as gordurinhas chatas que apareciam aqui e outra ali.
Minha mãe dizia que era paranoia minha. Portanto, não tinha nenhuma gordurinha extra na minha barriga. Contudo, não adiantava ela falar, bastava apenas ver a minha imagem refletida, que lá estavam os lipídeos acompanhando minha silhueta ainda meio desengonçada.
Entretanto, tinha períodos que eu gostava de ver o mundo, através dessa visão indiscreta. Quando capitamos com os nossos olhos algo bem picante, sem sermos notados, é muito engraçado. Como por exemplo, ver a sua irmã mais velha matando a saudade de seu namorado. Se a minha mãe visse a cena entre os dois, com certeza, quebraria o espelho. Se não o fizesse, a minha irmã depois o faria quando descobrisse que foi descoberta. Ela não aceitaria ter um fofoqueiro indiscreto contando seus segredos para todos da casa.
Hoje é segunda-feira, e queria que o mundo parasse e eu não visse a imagem de nada e de ninguém. Nesse momento, estou me sentindo uma excluída da lei da vida e do corpo. Se eu comentar para qualquer amiga minha sobre o meu sofrimento, chamar-me-iam de complexada. Mas para mim, está sendo bem difícil passar por essa fase, porque estou muito diferente das meninas da minha idade.
Quando estou em alguma festa ou quando há uma roda de amigas, na hora do recreio, acabo meio que ficando isolada dos papos. Isto está acontecendo, porque já tenho 13 anos e ainda não menstruei. Sendo assim, me sinto anormal perto delas. Uma vez que elas já reclamam de cólicas, “TPM” e outros temas sobre ser moça. A sensação que tenho, é de que sou uma criança tentando acompanhar as outras que já estão sendo adultas.
 
Sempre chego a minha casa e me olho no espelho. Ali, sempre me vejo pela metade. Sou uma menina, com mutações lentas, para ser mulher. Sou, ao mesmo tempo, uma mulher com restos de criança. Por isso, meus olhos ficam cheios de lágrimas. A minha esperança é de chegar ao banheiro e ver que tem um sinal indicando que me tornei moça.
Já fiz até simpatia para isso descer logo. Mas, nada até agora deu certo. Não vejo a hora, portanto, de ser normal. O pior é que até a minha prima de onze anos já tem cólicas e eu não.
Falo, reclamo com minha mãe que isso está me chateando e ela dá risadas da minha cara. E completa dizendo que devo ter uns parafusos a menos no cérebro. Diz que todas as mulheres gostariam de ficar livre disso e eu quero logo me ver sangrar.
Passam dias, meses. Portanto, já completei quatorze anos e nada de ser apta para poder acompanhar a vida alegre de minhas amigas.
Quando comento que quero ficar sozinha, elas discordam e dizem que preciso sair e beijar. Contudo, logo penso no fato de ainda ser uma criança. Então, logo afirmo que nenhum garoto vai querer namorar uma pirralha.
Acabo marcando para ir ao ginecologista com minha tia, depois de tanto pedir para ela me levar. Fico ansiosa para a chegada dessa data. Agora, portanto, serei ajudada por um especialista que me indicará algum remédio ou algo que eu possa comer para menstruar.
Antes do dia da consulta, acordei ansiosa e comecei a me arrumar duas horas mais cedo do horário da saída marcada com mia tia.
 Olhei-me no espelho enquanto escovava os dentes e notei que estava com uma olheira horrível. A sensação era de que tinha ficado uma semana sem dormir.
 Passando pelo corredor a fim de esperar a minha tia chegar para irmos, tive uma surpresa. Naquele momento, a raiva tomou conta de toda minha alma, porque vi que a minha mãe mandou colocar um novo espelho. Ele ficava bem de frente para a porta de meu quarto. Aproximei-me dele para ver em que parte de minha intimidade estava sendo refletida. Nesse momento, senti uma leve dor na barriga. Olhei para meu corpo, pelo espelho, logo vi que a minha calça estava suja de sangue na frente. Gritei pela minha mãe e corri para o banheiro. Nisso, ela veio apavorada perguntando o que tinha acontecido. Então eu na maior felicidade do mundo falei:
- Sou normal! Menstruei. O que eu faço?
Depois disso, desmarquei com a médica e com minha tia, Depois, sai pelas ruas passeando com minha cadelinha.
Eu era a garota mais feliz do mundo. Estava sentindo uma leve dor e um pouco incomodo pelo absorvente higiênico. Todavia, isso não importava, pois eu era uma garota completa para a minha idade.

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Vai lá e leia as 26 que estão faltando. Elas estão na obra 30 vivências de garotas adolescentes 

domingo, 15 de março de 2015

o Quarto Mundo ( saga de Fhilos e sofie I parte)




Cento e Oitenta luas Brilhantes

         Esta será uma época especial no reino de Ágalos, pois no próximo segundo dia de lua brilhante, será aniversário de Fhilos, que estará completando cento e oitenta luas brilhantes. Após esta data, ele deixará de ser criança. Esta é uma data importante para o povo Agalonense, porque representa o início da passagem da inocência para a maldade. É uma fase onde os jovens passam a ter contato com sentimentos, como: inveja, egoísmo, desânimo... E são constantemente perturbados por sonhos e pesadelos que se parecem reais.  Logo, é nesta fase que a mente começa a passar por muitos conflitos e desafios.
         Fhilos está sempre pensativo e ansioso em como será essa nova etapa em sua vida. Questiona sempre se será capaz de controlar essas tormentas mentais, que terão seu início na data de seu aniversário. Ele não se sente tão forte quanto um Agalonense, pois sabe que suas habilidades são para as lutas e guerras e não para o controle da mente.
         O jovem está desenvolvendo um bom porte físico, somado a um rosto com expressão de seriedade misturada com inocência, tudo isso reunidos a belos cabelos vastos, encaracolados e compridos. Sempre foi uma criança muito obstinada e, às vezes, age com certa impulsividade, por isso era sempre alertado pelos pais a pensar mais antes de qualquer atitude.
 Quando o menino nasceu no reino de Príamo que ficava localizado ao sul do Quarto mundo, o local era constantemente, atacado pelos Sardes. Estes eram povos bárbaros que queriam a todo custo roubar a “Chama Sagrada,” que ficava no Monte Uram. A Chama Sagrada servia para levar luz e força para os priamenses, pois impedia que as Sombras do Mal chegassem e escravizassem o povo.  O objetivo dos bárbaros era obter a chama para iluminar o caminho, espantando assim a energia e os poderes das sombras definitivamente. Com isso, poderiam cruzar as fronteiras de todos os outros reinos e roubar os elementos sagrados, deixando os povos vulneráveis e desorganizados. Com isso, facilitaria a sua escravização.
         Os elementos fogo, ar, terra e água foram presentes dados pelo deus Ilium, que era protetor do Quarto Mundo, a seus habitantes.  O deus presenteou cada lugar com uma força. Deu a Príamo, que se localizava ao sul, a Chama Sagrada: o poder do fogo. Este era um elemento muito poderoso e indomável, devendo ser usado com respeito e cuidado.
Ao reino de Helai, entregou a terra para ser guardada no Templo do Poder. Tal elemento representava a fertilidade, riqueza e a segurança do local. Helai ficava situado ao norte.
 Entregou ao povo de Aqueus, que ficava na fronteira oeste, o pote que continha a Água da Vida. Ela tinha o poder de curar todos os males do corpo físico. Muitos guerreiros, considerados evoluídos pelos mestres dos templos, vinham de todos os pontos para beber uma gota da Água da Vida, curando assim as feridas que os atormentavam depois das batalhas.
 E por fim, entregou ao povo de Ágalos, que ficava a leste do Quarto Mundo, cinco cristais de diferentes tamanhos. Eles ficavam pendurados por fios de ouro, recebendo o nome assim de Mensageiro dos Ventos. Quando o ar soprava naquele reino, o Mensageiro soava uma pequena e suave melodia. Com isso, ele, através de seu som, sempre lembrava aos nativos sobre as dificuldades de domínio de si mesmo. O elemento Ar é muito inconstante, ou seja, é muito difícil defini-lo, assim como as mentes dos Agalonenses.
Quando os Sardes bárbaros conseguiram dominar Príamo e roubar a Chama Sagrada, o povo foi destruído pelos poderes maléficos das sombras que enfraqueceram os guerreiros. Depois disso, eles ficaram covardes e fracos, pois precisavam da luz do fogo para iluminá-los. Alguns deles lutaram com os bárbaros, mas não restou nenhum habitante adulto em Príamo.
Os pais verdadeiros de Fhilos foram mortos logo assim que o fogo foi roubado. Eles faziam parte da Cúpula dos Onze Sacerdotes que cuidava da Chama, deixando o menino ainda bebê sozinho, com apenas três luas brilhantes de vida.
Essa é a única história que Fhilos sabe sobre o seu passado. Ele chegou a Ágalos ainda bebê, trazido por um sacerdote muito doente e ferido. O homem veio a falecer após ter chegado com o menino nos braços e o entregado a Héctor, um agalonense já ancião que cuidava, junto com sua mulher Tomisa, da biblioteca sagrada do local.
Fhilos passava a maior parte do tempo ao lado do pai, arrumando, limpando e emprestando os livros aos moradores que estão sempre buscando conhecimento sobre si. A grande biblioteca ficava localizada na parte central da cidade, ao lado do mastro onde está pendurado o Mensageiro dos Ventos. Era um casarão antigo. Suas paredes eram feitas de grandes e pequenas pedras nas mais variadas cores. Ao centro da sala principal, uma pedra angular sustentava toda aquela construção. Nela havia vários símbolos estranhos e desconhecidos pintados na cor azul, que mais pareciam rabiscos de quem está aprendendo a desenhar.
  Mas o que o menino gostava era de ficar no porão da biblioteca, que mais parece um labirinto, todo empoeirado e cheirando a mofo. Lá estavam os manuscritos dos antigos Sacerdotes da sabedoria. São livros grandes e pesados, feitos de peles de atrós branco. Os sacerdotes utilizavam a magia para escreverem as velhas histórias. Hoje, muitas pessoas que vivem no Quarto Mundo acreditam que essas histórias são apenas lendas.
Em uma manhã, Fhilos resolveu ir mais cedo para o porão a fim de encontrar algum livro antigo que falasse sobre magia. Contudo, o que encontrou foi um ninho de lero-leros. Eles eram animais bem pequenos com chifres pontiagudos e amarelos. O pelo era branco e crespo e com cheiro bem desagradável, que lembrava o fedor de fezes de atrós misturados com ovos chocos de galus.  Quando os bichos perceberam a presença do menino, começaram a piar cada vez mais alto. Nesse instante, houve uma grande surpresa, a mãe dos pequenos animais apareceu e começou a fincar seus grandes chifres na cabeça de Fhilos. O garoto saiu correndo pelos corredores desesperado para encontrar a porta de saída. 
         Quando chegou à entrada principal da biblioteca encontrou Hector, seu pai adotivo, acompanhado por uma menina. Ela tinha a pele morena clara, com longos cabelos negros com mechas douradas, seu rosto passava uma expressão um pouco felina. Sua roupa era feita de pelos de grelá, um animal lindo, delicado de cor azul. Dizem que era o animal preferido do deus Ilium, no tempo em que ele passeava pelo Quarto Mundo. Ela aparentava ter uma idade de mais ou menos, cento e cinquenta e seis luas brilhantes.  O jovem ficou paralisado ao ver a menina e somente se despertou, pois o velho ancião o chamou e disse:
  - Fhilos, venha aqui e ajude Sofie a encontrar o livro que relata sobre as magias brancas para bruxas iniciantes. Estão localizados na estante perto da terceira grande pedra rosa.
  Ele foi fazer o que o pai lhe pedira sem dizer uma palavra. Ainda estava muito assustado com o ataque que sofrera da mãe dos lero-leros e não conseguia pensar direito.
         Enquanto estava distraído procurando o livro que a visitante queria, ouviu pela primeira vez a voz de Sofie que mais parecia uma melodia de acalanto, dizendo:
- Quer que eu te ajude a procurar? Minha tia disse que o livro é branco com um desenho de um olho impresso na lateral.
  - Não! Já encontrei. Obrigado!
  - Agradeço eu - disse ela.
- Só não sei o que você vai fazer com ele, pois está todo escrito em éfiros. É uma língua morta que o povo antigo utilizava para se comunicar com os dragões e aprender com eles sobre magia e sobre os segredos dos mundos.
         - Eu sei disso, Fhilos. Minha tia Zoé está me ensinando a entender éfiros para que eu possa aprender sobre a magia branca.
  - Então, você é uma bruxa?   
  - Não sou e nem pretendo ser. Quero ser uma feiticeira e ajudar as pessoas com magia Branca.
  - Qual a diferença? - perguntou Fhilos.
  - Ora, garoto! As Bruxas são más, enquanto que as feiticeiras têm o poder da escolha entre o bem e o mal.
  - Sofie, então você pode me ajudar a ler os livros dos Sacerdotes da Sabedoria, que estão lá no porão da biblioteca, pois eles foram escritos em éfiros.
  - Mas, por que você se interessa por este assunto, menino?
  - Bem, depois eu te conto. Vou primeiro abrir as janelas do porão para que o sol espante aqueles bichos, com cheiro desagradável, que estão morando lá. Assim, poderemos estudar em paz.
 Com um sorriso malicioso, ela foi saindo e disparou:
  - Eu não disse que aceitaria te ajudar a ler e entender os livros dos Sacerdotes.
  - Ah! Mas eu sei que você não vai resistir, aprendiz de bruxa... Desculpe feiticeira. Espero-te amanhã neste mesmo horário.
  - Está bem! Garoto forte. Até amanhã!
 
­Sofie mora nos arredores de Ágalos junto com sua mãe e a tia Zoé. Essa velha tia é uma feiticeira que não faz uso dos poderes da magia, pois nunca se achou digna e capaz o suficiente para exercer tal tarefa. Mas via e sentia que a menina seria uma aluna excelente, uma pessoa que ela poderia ensinar tudo que sabe. Tinha, portanto, essa certeza, pois Sofie tinha força, coragem, determinação e muita disciplina. Mas não era só isso. Possuía o principal ingrediente: um bondoso coração.
  Ela sempre dizia à sobrinha que uma feiticeira precisava ser forte para resistir à tentação que o poder traz. Geralmente, ele vem acompanhado de arrogância e orgulho, deixando as pessoas que não estão preparadas sem o domínio e controle de suas mentes. Então, com isso, não precisaria de mais nada para que uma feiticeira se tornasse bruxa.
         A ansiedade tomou conta de Sofie, afinal ela iria ampliar seus conhecimentos em magia branca. Teria contato com as fórmulas e poções utilizadas nos tempos antigos, fórmulas estas esquecidas e abandonadas através dos anos. Mas ao mesmo tempo, ela queria descobrir o porquê daqueles livros dos Sacerdotes da Sabedoria estarem guardados e esquecidos no porão da biblioteca. Uma riqueza assim pensava a menina, deveria estar aberta e disponível a todos de Ágalos.
         No horário combinado, Fhilos estava inquieto e nervoso só esperando a sua nova amiga chegar. Pensava se realmente ela viria, pois afinal eles mal se conheciam. Até o velho Héctor percebeu o estado de ansiedade do filho e comentou com Tomisa, se o menino havia comentado o que o afligia. A mulher lhe respondeu meio que sem dar muita atenção à pergunta, que essa atitude era normal na idade do filho.
         O casal de bibliotecários já estava em uma idade bem avançada para um Agalonense. Quando se casaram, decidiram que não iriam ter filhos, portanto só viveriam para cuidar um do outro e do trabalho. Adoravam zelar pela riqueza que estava naquela biblioteca, afinal todo conhecimento que o reino possuía, estava registrado naqueles livros. Quando o menino apareceu na vida deles, perceberam que aquela situação só poderia ser coisa do deus Ilium. Pois não fazia sentido que um habitante do reino do sul fosse criado em Ágalos. Se os deuses criaram os quatro povos, cada qual com a sua especialidade e destino, como o pequeno Fhilos, de estrutura guerreira conseguiria dominar os poderes do intelecto?
         Mas à medida que ele foi se desenvolvendo, os pais perceberam que o filho tinha uma boa disposição para o aprendizado. Por ser muito curioso e dedicado aos ensinamentos dos mestres do reino escolar, seus pais nunca se preocuparam que o garoto passasse boa parte do tempo em um ambiente tão desagradável, como era o porão da biblioteca. 
         Sofie chegou toda apressada. Queria ir logo conhecer, sentir e folhear aqueles livros maravilhosos.  Não importava com o tempo nem com o mau cheiro que exalava daquele local. Provavelmente, os lero-leros já tinham ido embora incomodados pela luz do sol. Então, os dois amigos poderiam fazer seus estudos sossegados.
         Eles caminharam para a grande e pesada porta que dava acesso à parte inferior da biblioteca. Começaram a descer as escadas e logo dava para sentir o cheiro de mofo misturado com poeira. Então, a aprendiz de feiticeira perguntou:
         - Você não fica enjoado de ficar nesse lugar por muito tempo sentindo este ar?
         Ele começou a rir, dizendo:
          - Nem começamos a nossa pesquisa e você já vai começar com estas reclamações de menina “fresca”? Temos que fazer algum sacrifício para conseguir o que queremos.
         - O que você quer, Fhilos? Vai me contar agora qual é a sua intenção em decifrar os livros dos Sacerdotes?
         Ele não sabia se aquela era a hora de contar sua história, pois acabaram de se conhecer. Mas Sofie tinha uma coisa que ele não sabia explicar, que o deixava tranquilo e seguro para poder revelar seus sentimentos. E como eles já estavam naquela situação, então resolveu dizer:
         - É que preciso encontrar algum livro de magia, que tenha um feitiço bom para me ajudar a entrar nessa nova fase da vida (cento e oitenta luas brilhantes de vida) com maior capacidade para dominar as forças e armadilhas de minha mente. Afinal, eu sou um priamense, nasci para ser um guerreiro. Não quero viver o resto de minha vida num mundo de tormentas produzido por minha imaginação. Isso causaria muito desgosto a meus pais. Eu seria um fracasso de filho.
         Com um olhar de surpresa, a menina não sabia o que dizer e começou a procurar a solução para ajudar o amigo. Por isso, ela ficou um bom tempo sem se comunicar, até que ele perguntou:
         - Leu e encontrou alguma coisa parecida com o que eu procuro?
         - Ainda não, mas estou lendo uma história bem interessante, que fala de um lugar onde existem dragões que guardam tal livro Amarelo que contém todos os segredos do mundo, “...e quem obtiver este livro terá um grande poder que unirá os quatro reinos do Quarto Mundo, pois as palavras que os olhos do escolhido soletrar, uma grande felicidade irá causar.”
           O menino, imediatamente, estendeu as mãos em direção à amiga e disse:
         - Deixa-me ver isto, Sofie!
          Após folhear por uns instantes aquela história, exclamou:
         - Engraçado!
          Ela muito curiosa, questionou:
         - O que foi, Fhilos?
          - Sofie, durante todo o tempo que eu estive aqui, nunca tinha visto este livro. Onde você o encontrou?
         - Eu o achei caído aqui atrás deste velho baú.  Chamou-me a atenção porque estava cheio de cascas de ovos de lero-leros em cima dele. A mãe dos animais deve tê-lo derrubado para poder fazer o seu ninho. 
 
         - Olhe, Sofie, ele é bem leve para o tamanho que tem. E o material que foi usado para fazer ele é diferente, eu nunca vi nada assim antes.
         - Nem eu!  Posso levar para ler com calma em minha casa? Amanhã te conto toda a história que ele traz.
         - Está bem! Só preciso anotar no registro de saída da Biblioteca e dizer a meu pai que um livro do porão foi emprestado. Mas, não vai querer ler os livros dos Sacerdotes?
- Outra hora. Vou procurar primeiro te ajudar. Afinal, teremos muito tempo para ler em éfiros.

         Ela nem mais conseguia prestar atenção no que o menino dizia. Disse um rápido adeus e subiu as escadas correndo para procurar sua tia Zoe e contar as novidades.
         O jovem permaneceu por mais algum tempo vasculhando o labirinto subterrâneo à procura de livros que eles ainda não haviam investigado.
         Zoé estava na cozinha preparando a sopa de carapá que a sobrinha adorava. Esta sopa era uma mistura de ervas cítricas as quais eram encontradas no alto das colinas. Mas estas plantas só nasciam em locais onde as nuvens encontravam o chão. Muitas vezes, Sofie acordava bem cedo para ir com a mãe observar onde as nuvens encontravam o chão para colher as ervas. Estas eram misturadas com raiz-de-ló amarelo, que tinham um gosto adocicado. Após algum tempo de cozimento, estava pronto o delicioso Carapá. Quando a menina chegou e sentiu o cheiro, foi logo abraçando a tia e dizendo:
         - Que surpresa boa a senhora me preparou. Mas também tenho uma surpresa. Olha o que eu e o Fhilos encontramos na biblioteca.
Entregou o livro nas mãos da mulher e continuou ansiosa falando:
  - Tia, qual foi a magia usada para fazer este livro? O material de que ele foi feito eu não conheço. Também está escrito nele uma história estranha de um mundo de Dragões e...
         - Calma, Sofie! Deixa-me ver.
 A mulher ficou um tempo lendo, observando e falou:
  - Minha querida, este é o livro sagrado de Zemm, um Sacerdote da Sabedoria que tinha o poder de conversar diretamente com os deuses. Mas, dizem que as histórias que ele contava não passavam de imaginação de sua mente. Comenta-se que de tanto ficar em contato com os deuses, ele acabou se sentindo o melhor e mais importante ser que existia no Quarto Mundo. Então, os outros sacerdotes passaram a ignorar as suas palavras. Viviam dizendo que ele havia perdido o controle da mente e tinha ficado louco.  As antigas feiticeiras contavam que ele estava arrependido e mudara o seu jeito de ser, mas quando isso aconteceu, já era tarde, pois estava bem velho e solitário. Veja que ele nem foi escrito em éfiros, pois o velho já nem devia mais conseguir dominar essa escrita.
  Após aquele jantar e a longa conversa que teve com Zoé, a menina foi para o quarto a fim de ler aquela história que acabou de encontrar. Folheou aquelas páginas, até o sono embaralhar os seus pensamentos.
No dia seguinte, Fhilos estava um pouco indisposto, pois passou a noite em claro só pensando no que seria aquela história.  E o que mais o intrigava era que, após ter passado tanto tempo andando por aquele porão nunca ter visto aquele livro estranho.
  Deu o horário e a feiticeira ainda não tinha aparecido ao encontro combinado, deixando Fhilos ansioso e muito nervoso.
  Quando já estava na hora de terminar o trabalho e rumar para casa, Sofie apareceu graciosa como sempre. Estava exalando o seu ar felino, dizendo em um tom chantagista:
 - Vim te buscar para jantar comigo. Olha! Só te conto a história se você aceitar.
 Fhilos, sem olhar diretamente para ela e não deixando transparecer seu nervosismo, perguntou:
  - E tenho outra opção?
  - Por que o mau humor, garoto? Vim te fazer um convite e você me trata assim?
  - É que você me deixou esperando sem dar nenhuma explicação. - ela não esperava aquela atitude do amigo e ficou sem ação.
 Ele continuou:
- Ajude-me a fechar as portas da biblioteca para podermos ir. O que vamos comer?
- Ensopado dos lero-leros que você encontrou no porão. Ou está com medo deles?
Ambos começaram a rir e saíram apressados para o jantar, pois a tia Zoé já devia estar colocando os pratos a mesa.
 Durante aquele jantar, todos se divertiram muito. Zoé contou muitas de suas bagunças feitas quando era aprendiz de feiticeira. A mãe de Sofie comentou as peripécias que a filha fazia usando os feitiços para iniciantes.
 Fhilos ouvia todas aquelas histórias com muita atenção. Também contou para todos como foi o ataque dos lero-leros, e outras histórias. Mas, o que o deixou mais intrigado foi quando a tia de sua amiga leu o que continha naquele livro misterioso, pois ele sentia que aquele assunto narrado tinha alguma coisa a ver com sua vida.
 Naquela noite, ele não conseguiu dormir direito. Sempre que conseguia passar por algum sono, logo era atormentado por pesadelos que o deixava tremendo e suando frio de medo, pois pareciam reais. Sonhou que estava preso entre as garras do dragão Negro e prestes a ser esmagado por aquela fera a qualquer momento. Também teve um sonho que estava dentro de um livro Amarelo tentando entender o que estava escrito, mas as sílabas mudavam de lugar o tempo todo. Com isso, era impossível que ele decifrasse o que estava escrito. Aquela foi uma noite agitada e cansativa, que se refletiu durante o dia todo.
 Philos não compareceu à biblioteca se queixando de cansaço e dor de cabeça, deixando assim, Héctor e Tomisa preocupados.
 Durante aquele dia, ficou no quarto lendo o seu livro de lutas. Treinava golpes, fazia alongamentos e só parava para lanchar e ver um pequeno resno voador fazer sua casa no canto da parede, próximo ao teto. Sempre que via aquele pequenino animal ficava intrigado com o tamanho dos olhos que ele tinha. E pensava por que aquele bicho tão pequeno possuía olhos grandes.
  Em seu quarto havia uma cama enorme com um colchão feito de molas mágicas. Ele foi encomendado a um velho Mago que morava próximo às colinas, onde as nuvens encontram o chão. Quando se deitava naquela cama, a sensação era de que o corpo estava flutuando, por ser o colchão tão macio e confortável.
 Debaixo de uma grande janela de vidros escuros que ficava de frente para a cama, encontrava-se uma grande almofada azul real, usada para fazer relaxamento da mente. Bastava sentar-se nela com as pernas abertas e os pés se cruzando, que a mente logo entrava em sintonia com os sons emitidos pelo Mensageiro dos Ventos. E era isso que Fhilos iria fazer, pois não queria pensar mais em livros, magias, aniversários...
 Sofie passou o dia todo com a tia exercitando e decorando as magias brancas, que estavam no livro contendo o desenho do olho na lateral. Ela tinha que devolver rápido, pois havia pegado emprestado na biblioteca no dia em que conheceu Fhilos.
 E veio mais uma noite angustiante para o menino. Sonhou que ficava perambulando pelas ruas de Ágalos completamente alucinado. Seu corpo estava todo modificado devido à grande quantidade de músculos e cicatrizes. Quando olhou para uma janela, viu Sofie com a mão enorme jogando um pó brilhante em cima de vários lero-leros. Nisso, os bichos foram transformados em biscoitos salgados fedidos.
 Antes do amanhecer, quando o sol ainda nem mostrava seus raios cheios de energia e brilho sobre os telhados de Ágalos, Fhilos já estava andando pelas ruas do reino em direção à estrada que levava ao lar da amiga feiticeira. Era tão cedo que os moradores ainda estavam em suas casas de pedras coloridas, dormindo. As cores das casas pareciam mais vibrantes, devido a pouca intensidade dos raios do sol incidindo sobre elas. Dizem que aquelas pedras fizeram parte do caminho que o deus Illium sempre costumava pisar, no tempo em que ele andava pelo Quarto Mundo. Elas ficaram coloridas por causa da grande quantidade de energia armazenada nelas. Cada cor emitia um tipo de luz e energia ajudando assim, no equilíbrio mental dos moradores.
 
 Sofie acordou com um barulho de um galho batendo em sua janela. Quando a abriu, viu Fhilos fazendo sinal com as mãos para que ela fosse encontrá-lo no jardim, bem em frente à porta de entrada da varanda.
 Aquela casa só era parecida com as outras do reino no que se referia às pedras coloridas. No mais, era muito diferente, pois fora projetada para ser uma casa de festas. Possuía três grandes cômodos protegidos por um telhado vermelho carmim, que se estendia até à parte de fora da casa, formando uma ampla varanda. Entre as pedras coloridas das paredes, nasciam vários tipos de flores e arbustos. À frente da casa, havia um belo jardim com árvores retorcidas de porte médio. Bem no centro deste jardim, foi construído um coreto de madeira toda recortada por desenhos simbólicos antigos.  Tudo isso, dava um aspecto todo místico e mágico àquela moradia. Enfim, um lugar perfeito para uma feiticeira morar.
 Sofie saiu correndo para saber o que ele queria àquela hora:
 - Aconteceu alguma coisa?
 - Calma, eu só vim te procurar porque resolvi ir buscar o livro Amarelo. Quero saber se você irá comigo.
 - Não estou te entendendo, Fhilos!
 - Sofie! Preciso buscar uma solução para os meus pesadelos. Já faz duas noites que não durmo. E alguma coisa me diz que a resposta para o meu problema está naquele livro.
 - Mas é só uma história! Nem sabemos se aquele lugar realmente existe - argumentou a menina.
 Ele já estava ficando nervoso com a descrença dela e esbravejou:
 - Vou descobrir com ou sem você!
 - E como vai fazer isso? - perguntou calmamente, a feiticeira.
 - Amanhã bem cedo partirei em busca do Reino dos Dragões.
 - Não acredito que você irá agir sem...
 Ele nem deixou Sofie completar o que estava falando, disse um adeus sem olhar para trás. Sofie ficou parada sem saber o que dizer ou fazer. Então, concluiu que aquela atitude impulsiva já deveria ser um reflexo do conflito na mente do amigo.  Afinal, o aniversário dele estava bem próximo.
 Naquela noite ele não se preocupou em dormir, ficou arrumando as coisas que precisava levar na viagem. Fhilos pegou o livro de Arte das lutas e algumas ervas para fazer chás curadores em caso de necessidade. Foi à cozinha e pegou também alguns biscoitos, pães, frutas, doces de Cupu (era o seu doce preferido). Procurou por um cantil com água e colocou tudo dentro de uma mochila de couro de atrós.
 Ao amanhecer, saiu deixando um bilhete para os pais dizendo que não precisavam se preocupar, pois ele iria ao encontro de seu destino. Logo que necessitava conseguir algumas respostas e breve retornaria.
 Quando estava passando perto da casa de Sofie, ouviu uma voz.
 - Não está esquecendo nada? Vai seguir viagem sem levar o livro?
 - Ah! Oi, Sofie! Obrigado. Estava me esquecendo dele.
 Com um jeito gracioso, Sofie continuou:
 - Fhilos, será que você ainda vai precisar de alguém, para te contar histórias mágicas e também, fazer companhia?
 Ele com uma expressão de satisfação, disse no meio de um sorriso:
 - Isso quer dizer que você vai comigo?
 - Claro! Não perderia isso por nada.
 Eles se abraçaram alegres, dando início, assim a uma longa jornada rumo ao Reino dos Dragões.

 


Conhecendo o Reino de Helai

 Ambos sabiam que para entrar no Reino dos Dragões primeiro teriam que passar por Helai, ao norte do Quarto Mundo. Precisavam pegar um pouco da terra no jardim do Templo do Poder, pois o livro ensinava que, “... e na terra do povo do norte, proteção e segurança, em seu jardim, irão buscar. A terra abençoada do templo não os queimará.”
 Andaram horas e horas. Somente quando a fome e a sede os perturbavam é que paravam para descansar. Afinal, queriam chegar a Helai antes do pôr do sol.
 Quando avistaram os portões do reino do norte, encheram-se de alegria e logo correram para entrar, antes que os protetores fechassem a entrada.
 O reino de Helai era cercado por uma grande muralha de pedra dourada que mais parecia uma fortaleza. Na entrada, grandes portões de ouro exibiam a imponência do lugar. Os Helaienses viviam em função do comércio e do acúmulo de riquezas. Todos se preocupavam com o bem estar material. Quem não fosse rico, significava que não estava em sintonia com o elemento terra. Então, era considerado amaldiçoado pelos deuses.
 Quando Fhilos e Sofie passaram pelos portões do reino, ficaram encantados com a beleza e riqueza do lugar. As casas eram feitas do mesmo material dourado usado para fazer as muralhas. Para todo lado que eles olhavam, viam grandes portas abertas e, lá dentro, estavam cheias de todo tipo de materiais necessários para se utilizar, como: roupas coloridas, livros, potes, jóias, tapetes, ervas...
 As pessoas iam e vinham de todos os lados e partes do Quarto Mundo, a fim de comprar aqueles produtos.
  Fhilos perguntou a um ancião, que estava sentado ao lado de uma banca de roupas, onde poderia encontrar o Templo do Poder. O homem fez um sinal com as mãos apontando em direção ao centro do local. Eles saíram apressados, pois queriam logo pegar a terra para seguirem viagem. Iriam para o reino do oeste assim que o dia clareasse, evitando assim, o encontro com as sombras do mal que estavam sempre à espreita quando anoitecia.
 Quando chegaram à parte central de Helai, ficaram encantados com o tamanho e beleza do Templo do Poder. Este fora construído no formato de um quadrado, que simbolizava a solidez do elemento terra. Ao redor do Templo estava o jardim com suas árvores compridas e robustas. E bem ao meio se encontrava uma fonte com uma estátua de um Sacerdote da Sabedoria. Ele estava segurando um pote inclinado, o qual jorrava de seu interior uma terra negra, constantemente.
 Sofie colocou suas mãos embaixo daquele jato de terra que saía da estátua para sentir a textura daquela terra diferente, enquanto Fhilos colhia um pouco daquele elemento sagrado e guardava dentro de um pote pequeno com uma tampa. Logo em seguida, envolveu todo o objeto com um pano amarelo e o guardou em sua mochila.
 Naquela noite, ele precisava dormir, pois não conseguiria caminhar na manhã seguinte se não descansasse. Ela também estava cansada e com fome. Então, resolveu fazer alguns truques de magia branca para poder transformar alguma coisa, em alimento. Nisso, sentou-se em um banco, abriu a mochila tirando uma caixa repleta de larvas e casulos de insetos.
 O menino ficava só observando meio incrédulo.
 Ela continuou seu ritual abrindo um pano branco sobre o colo e colocando os insetos em fase de desenvolvimento, por cima. Fechou os olhos, ergueu as mãos sobre o pano e pronunciou:
 - Energias vêm energias vão. Coloque o que eu desejo em minhas mãos.
 Em seguida fechou o pano e tornou a abrir. Imediatamente, apareceram sobre o seu colo vários pãezinhos cheirosos e macios de variados sabores e recheios.
 Fhilos, boquiaberto, falou:
 - Nem pense que eu vou comer isso. Prefiro comer os lanches que eu trouxe de casa.
  Sofie começou a rir e a saborear seus deliciosos quitutes. Enquanto isso, Fhilos conversava com alguns Sacerdotes pedindo permissão para passar a noite naquele local.
 Quando entraram no Templo, sentiram uma energia tranquilizadora que emanava dentro daquele recinto. O elemento terra que Helai recebeu de presente ficava em um altar dentro de um pote todo cercado e iluminado por quatro grandes velas quadradas. Elas eram mais ou menos do tamanho dos meninos e foram feitas nas cores vermelha e azul. As paredes internas do lugar eram ornadas com símbolos feitos de ouro. Perceberam então, que eram iguais aos rabiscos azuis que existiam na pedra angular da biblioteca de Ágalos.
 Passaram a noite no Templo. Acordaram felizes e bem dispostos, pois conseguiram dormir sem nenhuma perturbação. E assim que o sol intensificou o brilho dos muros de Helai, ambos partiram rumo ao oeste, à procura do reino da Água da Vida, pois o livro ensinava que “... a água a qual jorra na pedra em terra árida, irão buscar. Todos os males do corpo ela envolverá. Terra e água se unirão, o veneno do mestre não os alcançarão”.....

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