Terror com filme
O
povo está reunido e faz uma hora na sala da casa de nosso amigo de infância.
Aproveitaram que os pais dele saíram para assistirem a um filme de terror e
suspense. Eles me chamaram, mas desisti de ir ao último instante.
Hoje,
estou meio que entediado. Quero muito é descolar algo diferente para sentir uma
adrenalina com diversão e ousadia. Por isto, já estou bolando uma pegadinha
para fazer com a galera e deixa-los borrando de medo.
A
casa desse amigo, o qual está oferecendo esta noite o cinema, é antiga. Tem ao
seu redor um enorme jardim que está meio que abandonado. O mato está alto. Por
isto, será um ótimo aliado meu. Vou-me esconder nele e aprontar bem no meio do
filme. Pelo tempo que eles estão em silêncio já devem estar quase nas partes
mais emocionantes.
Ato
primeiro: Jogar pedras no telhado da sala e me esconder próximo à janela, a fim
de ver a reação deles. Quero observar quem terá a coragem de vir aqui fora para
ver o que está acontecendo.
Primeira
pedrinha lançada. Já se passaram dois minutos e ninguém veio conferir o que
poderia ser. Isto, já era esperado.
Pedrinha
dois lançada. Agora apareceu um para observar o que está acontecendo. Vou
posicionar o espelho virado para a janela. Assim já vejo a melhor posição do
corajoso. Ele está acompanhado dos outros dois. Estou começando a gostar dessa
brincadeira.
Ato
segundo: Ir ao porão e desligar o interruptor por cinco segundos. Sei que com
isso, nenhum deles terá a coragem de vir ao porão verificar a chave geral.
- Vamos
lá! Onde está esse interruptor?
-
Está aqui o interruptor amigão. Vamos fazer aqueles moleques ficarem com os
cabelos em pé. Melhor eu falar baixo antes que eles escutem.
Desligando
um, dois e três, quatro, cinco. Ligando novamente. Irei aproveitar e bater com
este pedaço de madeira no assoalho da casa.
-
Cara, o que tem de errado com sua casa? Ela não é mal assombrada não, né?
-
Claro que não, né mané.
- Nem
vem falar que é a nossa imaginação vendo essa luz ter apagado sozinha. Você
também ouviu o barulho nas tábuas do piso.
- A
minha casa não tem nada, vocês estão assustados por causa do filme.
Os
caras já estão se borrando de medo. Agora vou preparar a câmera para filmar
eles saindo correndo pela porta da saída.
Ato
terceiro e final: Vou entrar pela porta da cozinha e bater na mesa várias vezes
dando um grito de pavor.
Entrando
no recinto sem fazer barulho. Como esses moleques são bagunceiros. Fizeram
maior sujeira no chão com pipoca e salgadinhos. Tenho certeza que, depois do
que eles aprontaram aqui, a dona da casa vai adorar o fato de eu ter espantado
esses porções da sala dela.
Já
estou no local do impacto final, observo, portanto, que eles estão distraídos.
Irei somente esperar a cena mais pavorosa acontecer e depois darei o ataque
final. Neste momento, preciso ter muita calma e não fazer nenhum movimento,
senão do jeito que estão apavorados, poderão me notar. Somente mais um pouco
e...
- Ah!
- Há...
Há... Há... Saíram correndo e trombando um no outro. Quase que não conseguiram
passar pela porta.
Foi
chinelo pra um lado, pipoca por outro e eles estão lá fora. Muito divertido.
Agora
é melhor dar o fora daqui, pois poderão entrar e me ver. Assim que eles
voltarem para a sala, vou lá fora pegar a minha câmera. Amanhã eles terão uma
novidade. Assim que chegarem ao colégio, vão saber o que realmente aconteceu
durante o cinema deles. Vou logo mostrar para a turma o vídeo desses medrosos e
covardes.
Essa
foi uma diversão bem melhor do que assistir aquele filme. Fui o ator, diretor e
eles fizeram a parte final da história.
Mari Silveira
Breve lançamento dessa e outras crônicas no livro: "30 Vivências de Garotos Adolescentes "
Minha vida por um sonho
Terror com filme
O
povo está reunido e faz uma hora na sala da casa de nosso amigo de infância.
Aproveitaram que os pais dele saíram para assistirem a um filme de terror e
suspense. Eles me chamaram, mas desisti de ir ao último instante.
Hoje,
estou meio que entediado. Quero muito é descolar algo diferente para sentir uma
adrenalina com diversão e ousadia. Por isto, já estou bolando uma pegadinha
para fazer com a galera e deixa-los borrando de medo.
A
casa desse amigo, o qual está oferecendo esta noite o cinema, é antiga. Tem ao
seu redor um enorme jardim que está meio que abandonado. O mato está alto. Por
isto, será um ótimo aliado meu. Vou-me esconder nele e aprontar bem no meio do
filme. Pelo tempo que eles estão em silêncio já devem estar quase nas partes
mais emocionantes.
Ato
primeiro: Jogar pedras no telhado da sala e me esconder próximo à janela, a fim
de ver a reação deles. Quero observar quem terá a coragem de vir aqui fora para
ver o que está acontecendo.
Primeira
pedrinha lançada. Já se passaram dois minutos e ninguém veio conferir o que
poderia ser. Isto, já era esperado.
Pedrinha
dois lançada. Agora apareceu um para observar o que está acontecendo. Vou
posicionar o espelho virado para a janela. Assim já vejo a melhor posição do
corajoso. Ele está acompanhado dos outros dois. Estou começando a gostar dessa
brincadeira.
Ato
segundo: Ir ao porão e desligar o interruptor por cinco segundos. Sei que com
isso, nenhum deles terá a coragem de vir ao porão verificar a chave geral.
- Vamos
lá! Onde está esse interruptor?
-
Está aqui o interruptor amigão. Vamos fazer aqueles moleques ficarem com os
cabelos em pé. Melhor eu falar baixo antes que eles escutem.
Desligando
um, dois e três, quatro, cinco. Ligando novamente. Irei aproveitar e bater com
este pedaço de madeira no assoalho da casa.
-
Cara, o que tem de errado com sua casa? Ela não é mal assombrada não, né?
-
Claro que não, né mané.
- Nem
vem falar que é a nossa imaginação vendo essa luz ter apagado sozinha. Você
também ouviu o barulho nas tábuas do piso.
- A
minha casa não tem nada, vocês estão assustados por causa do filme.
Os
caras já estão se borrando de medo. Agora vou preparar a câmera para filmar
eles saindo correndo pela porta da saída.
Ato
terceiro e final: Vou entrar pela porta da cozinha e bater na mesa várias vezes
dando um grito de pavor.
Entrando
no recinto sem fazer barulho. Como esses moleques são bagunceiros. Fizeram
maior sujeira no chão com pipoca e salgadinhos. Tenho certeza que, depois do
que eles aprontaram aqui, a dona da casa vai adorar o fato de eu ter espantado
esses porções da sala dela.
Já
estou no local do impacto final, observo, portanto, que eles estão distraídos.
Irei somente esperar a cena mais pavorosa acontecer e depois darei o ataque
final. Neste momento, preciso ter muita calma e não fazer nenhum movimento,
senão do jeito que estão apavorados, poderão me notar. Somente mais um pouco
e...
- Ah!
- Há...
Há... Há... Saíram correndo e trombando um no outro. Quase que não conseguiram
passar pela porta.
Foi
chinelo pra um lado, pipoca por outro e eles estão lá fora. Muito divertido.
Agora
é melhor dar o fora daqui, pois poderão entrar e me ver. Assim que eles
voltarem para a sala, vou lá fora pegar a minha câmera. Amanhã eles terão uma
novidade. Assim que chegarem ao colégio, vão saber o que realmente aconteceu
durante o cinema deles. Vou logo mostrar para a turma o vídeo desses medrosos e
covardes.
Essa
foi uma diversão bem melhor do que assistir aquele filme. Fui o ator, diretor e
eles fizeram a parte final da história.
Mari Silveira
Breve lançamento dessa e outras crônicas no livro: "30 Vivências de Garotos Adolescentes "
Oi! Eu sou como você, ou seja, um ser que está sempre buscando um lugar no
tempo e no espaço. Antes eu vivia atormentada por meu presente e sentia, às
vezes, saudades do passado. Mas, depois que tive um sonho na noite de 31
de outubro passado, minha vida mudou por completo. Este sonho eu quero passá-lo
a você, pois tenho certeza que chamará muito sua atenção e mudará, nem que seja
um pouco, a sua vida. Isso, eu estou convicta.
Bem!
Você deve estar se perguntando quem sou. Talvez pensando, quem é essa
pessoa que está "roubando" o meu tempo e quem sabe, prendendo
minha atenção. Mas, vou logo acalmá-lo, dizendo que no momento não posso
revelar minha identidade. Não por enquanto. Quem sabe revelar-me-ei no final
desta história. Mas, quando essa revelação acontecer, tenho certeza que irei
surpreendê-lo. Talvez você fique decepcionado, surpreso, ou quem sabe,
encantado. Então, podemos dizer que algum tipo de sensação inesperada, só
irá acontecer ao final dessa narrativa. Por isso, no momento só irei me apresentar
como Clara Luz. Não sei se você vai gostar desse nome, mas acho o bem sugestivo
para a ocasião. Clara é bem suave, simples, delicado...
Percebo que talvez esteja já ficando impaciente, inquieto, enfim, querendo
saber qual será o fato descrito. Por isso, vou começá-la. Mas, antes já vou lhe
avisando que, às vezes, poderei interrompê-la por algum descuido ou algo inesperado
que tenho que falar diretamente a você. Espero que isso não aconteça.. Mas, se
ocorrer prometo ser breve.
Tudo
começa na noite de 31 de outubro de 2009 durante as comemorações do halloween
na cidade. Como de costume, as crianças ficam acordadas até a madrugada batendo
em nossas portas dizendo aquela famosa frase: "Doces ou travessuras".
Naquele 31 de outubro eu não havia comprado nenhuma guloseima. Não iria doar
nada a ninguém e se alguma criança aprontasse alguma daquelas travessuras
irritantes, provavelmente eu chamaria a polícia. Eles teriam que ficar vigiando
a minha porta a fim de evitar que, algum dedo pequeno e melado tocasse a
minha companhia.
Eu estava muito irritada. Tudo a minha volta me chateava. Não queria voltar
mais para o meu trabalho porque estava insatisfeita com o meu salário, com as
pessoas do meu setor, com o meu supervisor. Estava cansada de ter que ficar
fazendo horas extras naquele medíocre jornal. Todos os 15 funcionários tinham
que cumprir essa rotina, pois o meu iludido "chefe" queria que aquele
"jornaleco" de quinta categoria fosse o melhor da região. Pausa...
Oi, estou tentando passar a você todo sentimento que existia dentro de mim,
antes de dormir naquela benéfica noite. Quero mantê-lo a par dos
detalhes, para que tudo seja o mais fiel possível aos fatos.
Minha vida sentimental estava caótica. Eu e Will já estávamos pensando em
divórcio, pois eu tinha a máxima certeza que ele tinha outra pessoa. E minhas
convicções cada vez mais aumentavam em relação à traição. Ele sempre chegava
indiferente em casa. Só sabia ir para o quarto de hóspedes ler o jornal ou ver
futebol. Essa rotina só era quebrada com as duas horas diárias na academia.
Porém, não entendia o motivo pelo qual ele havia escolhido uma academia
tão distante de nossa casa, uma vez que, só em nosso bairro, havia duas. Comecei
a perceber que Will estava se sentindo um garotão de 20 anos. O mesmo não
acontecia comigo, pois muitas vezes me sentia velha e desinteressante. Há 10
anos os rapazes me mediam com os olhos da cabeça aos pés, sempre trocávamos
olhares. Hoje, o que recebo são aqueles olhares de piedade ou com aquela deprimente
expressão: "Oi tia!"
Muitas noites, ou seja, nos momentos em que meu marido me deixava sozinha para
estar com os amigos, ou quem sabe, amiga, eram momentos de muita tristeza e
arrependimento. Eu ficava lamentando os filhos que não tive, pois resolvemos
isso, assim que casamos. Ele dizia que viveríamos exclusivamente um pelo outro.
Achava isso na época tão romântico. Hoje, percebo o quanto fui idiota. O
romantismo só havia em minha cabeça, pois o pensamento de Will era não ter
filhos, a fim de não aumentar as despesas da casa. Ele como filho único e
mimado, pensava que o mundo tinha que girar em torno de seu umbigo. Quantas
vezes brigamos por causa de seu egoísmo. Se tivesse contado, acho que o número
chegaria à casa das centenas, sem exagero.
Uma vez fui a uma cartomante a fim de
entender o que estava acontecendo com o meu casamento. Não que eu acreditasse
nessas coisas, mas uma amiga havia me convencido de que a mulher era capaz de
ver tudo. Então, após pensar muito, marquei a consulta e fui.
Pensei duas vezes antes de tocar a campainha daquela senhora que me amiga
disse que se chamava Sara. Após alguns instantes de espera, apareceu uma
senhorinha de mais ou menos um metro e meio, com um sorriso todo valioso, ou
seja, seus dentes caninos eram cobertos de ouro. Ao entrar, fiquei um pouco
assustada com aquela sala, mas logo ela me explicou que era uma decoração
cigana.
Sentei-me ao redor de uma pequena mesa
redonda com uma toalha vermelha bordada com estrelas e luas e um imenso sol no
centro. A sala tinha cheiro de incenso, que ao se misturar com o cheiro de uma vela aromática, queimando frenética,
lembrava a minha vizinha esotérica Bárbara. Saudades dela. Sempre com um
sorriso no rosto e suas roupas esvoaçantes e coloridas. Conversávamos muito,
quando dividíamos o elevador.
Sara, após alguns minutos de minha angustiada
espera, entrou na sala e fez uma oração ao pé de uma imagem de Santa Sara.
Conheço esta imagem, porque já a vi na casa de Bárbara. Nesse instante, fiquei
meio sem ar de nervoso, mas logo fui me acalmando. Não sei se eram as orações
dela, ou se minha mente aceitou aquela situação.
A
senhorinha sentou-se calma e terna e segurou a minha mão. Senti uma sensação de
paz por todo meu ser. Ela olhou-me com tanta profundidade que parecia que ela havia penetrado em minha
alma e descoberto todos os meu segredos. Senti-me tão exposta e ao mesmo tempo
segura. Sabia que tudo que eu era estava guardado e jamais sairia daquela sala.
Sara disse várias coisas da minha
infância. Mas, isso não significava nada de importante para mim. Apenas duas
coisas ficaram em minha mente. A primeira era o fato que eu deveria perdoar. A
outra, no entanto era de que as
respostas que eu buscava, não seriam revelada através dela e sim, de uma forma
muito especial.
Após ouvir isso, vocês já sabem o que se
passou por minha mente. Todos teriam a mesma conclusão. Sentiriam terem sidos
enganados por falsos videntes. Portanto, ter procurado aquela mulher tinha sido
uma perda de tempo. Enfim, voltei para casa mais atormentada do que já estava.
Tudo que acontecia em minha vida naqueles
meses, não fazia sentido. Parecia que eu estava dentro de um redemoinho, onde
tudo estava desorganizado e girando. E, no entanto, só após ter tido aquela
maravilhosa noite é que pude perceber e ter a exata noção de todos os
acontecimentos.
Antes de adormecer e ter aquele sonho libertador, eu estava muito agitada.
Liguei para minha amiga de infância Lanna, a secretária eletrônica
informou-me que a família Biancucci estava viajando.
Liguei a tv e meu dedo mudava de forma automática os canais. Meus
olhos não captavam nenhuma daquelas imagens que se formavam nas mais
variadas cores. Aproximei-me da vidraça e vi duas imagens opostas. Uma, do lado
de fora, mostrando a felicidade e inocência das crianças fantasiadas e comendo
seus doces do dia das bruxas. Ao mesmo tempo, o vidro refletia a imagem de um
ser de meia idade sem sentido de vida, ou seja, somente esperando o sono
vir em piedade e levá-lo para outros mundos, outra realidade.
Não irei me estender muito. Apenas preciso passar a você, como já disse todas
as informações relevantes a fim de ser o mais "clara"
possível, pois é este o nome que estou usando.
Mas, antes de começar a contar o sonho, não sei se percebera que o fato de
sonhar é uma coisa muito estranha. Primeiro, ele não tem começo e de repente
somos jogados no meio de umas cenas desconhecidas e sem sentido. São passagens,
acompanhadas ou não, por pessoas conhecidas. Nunca sabemos qual foi o arquiteto
que projetou os planos de fundo. Às vezes, penso que ele é algum
desconhecido que penetra em nosso subconsciente e tenta montar um cenário com
as imagens que estão fragmentadas. Por isso, algumas partes estão sem
sentido, pois acredito que ele usa alguma imagem de outro cenário, a fim de
tentar dar forma aos sonhos.
Outro fato interessante, é que sonhos não têm final. Entramos no
meio da história e no meio delas saímos. Isto acaba sendo frustrante, pois
nunca descobrimos qual é o final do enredo.
Vamos então imediatamente àquela noite,
antes que vocês comessem a reclamar da demora.
O calor da cama ajudou-me a relaxar um pouco. Senti a
falta de Will a meu lado. Nem imaginava onde ele poderia estar. Apenas
deixou-me, como consolo, seu cheiro misturado com um perfume amadeirado.
Rapidamente adormeci embalada pela suavidade dos lençóis de
seda. Mas, fui acordada pelo choro de uma criança e quando abri os
olhos para descobrir o que estava acontecendo, não conseguia ver nada à minha
frente. A sensação imediata era que eu estava no meio de
nuvens, pois por todo lado havia uma neblina muito espessa. Então, resolvi
caminhar a fim de descobrir o que estava acontecendo. Mas, não conseguia
descobrir nada, apenas ouvia o choro da criança. Rapidamente pensei: -
Será que eu morri? Aqui é o céu, com certeza. Mas, cadê os anjos e os santos?
Onde está São Pedro para abrir para mim as portas do paraíso?
Você deve estar achando engraçado eu estar cobrando as portas do Éden, né?
Mas, não deseja que depois de todo o sofrimento que passamos na terra,
merecemos o paraíso? Talvez, não concorde comigo, mas penso assim.
Caminhei devagar por algum tempo, sempre tentando seguir a "direção"
do som daquele choro de criança. A princípio, o som vinha de todos os
lados. Porém, depois de alguns minutos já dava para distinguir o ponto
exato do gemido.
Como num piscar de olhos, eu estava dentro da casa de meus pais. Mas, ela
estava muito diferente. Então, percebi que era o mesmo ambiente de minha
distante infância. A casa ainda estava do jeito que minha avó havia deixado
para a minha mãe. Ela ainda não tinha passado pela grande reforma a qual me
deixou muito triste.
Quando eu tinha mais ou menos 9 anos, minha mãe resolveu modernizar o nosso
lar. Para isso, ela contratou um arquiteto a fim de fazer outra decoração.
Desmoronou paredes, colocou novas janelas, modificou o jardim estilo tropical e
o transformou em um jardim inglês. Ela
dizia que tal estilo era a revolução contra os padrões simétricos e rígidos que
existiam. O novo estilo valorizaria a paisagem natural, mas com formas curvas e
arredondadas.
Aquela mudança parecia ter destruído todas as lembranças boas de minha
infância. Era como se tivesse me tirado de uma vida feliz e me jogado em um
ambiente estranho. Senti tanta tristeza ao ver o jardineiro arrancar o pé de
rosa vermelha que minha avó gostava. Ela sempre colhia a mais bela flor que
havia, para levar para a igreja a fim de colocá-la no jarro do altar do Sagrado
Coração de Jesus. Como eu gostava da companhia dela. Seus bolos, suas
tortas e o famoso pão-de-ló que dava água na boca. Sempre à tarde, ela ia
para a varanda dos fundos contar suas estórias assustadoras. Eram
fatos que ela jurava que tinha uma certa realidade. Tem um que
nunca me esqueço, principalmente quando vou ao sítio e vejo uma casa velha e
abandonada.
Minha avó contava que, quando criança, sua família havia
se mudado para um casarão antigo e bem distante de outras moradias. Mas,
ficaram morando por lá muito pouco tempo. Toda noite eles eram acordados pelo
barulho de várias panelas caindo pelo chão. No entanto, quando alguém tomava
coragem para ir ver o que estava acontecendo na cozinha, observava que tudo
estava em ordem, ou seja, as panelas estavam como a cozinheira tinha deixado.
Novamente o choro chamou minha atenção. Resolvi então
deixar as lembranças de minha avó e fui até o quarto de meus pais.
Lá, vi que aquele choro era de meu irmão Alvin, o qual lembrei-me que não
o vejo há anos. Ele estava no colo de minha mãe reclamando que eu havia
quebrado a sua pipa. Recordei-me que fiz isso, porque ele saiu para o parque
com a minha bicicleta nova e ainda emprestou para os seus amigos. Quando
vi aquela cena dos garotos em cima de minha bike, pensei logo em vingança. Não
gostava que ninguém usufruísse de minhas coisas.
Fiquei tão envergonhada com a minha atitude maldosa. Percebi que as críticas
que eu fazia a Wil por causa de seu
egoísmo, deveria, na verdade, tê-las feito a mim. Entendi que ele era apenas um
espelho me refletindo. Vou confessar uma coisa a você que, desde pequena, nunca
quis dividir nada, nem com meus entes queridos. Hoje percebo que, se atraí o
meu marido egoísta é porque também sou assim. Afinal, semelhante atrai
semelhante.
Quando vi meu irmão chorando compulsivamente, aproximei-me e
toquei o seu lindo rosto juvenil. Queria tanto pedir desculpas por toda a minha
ausência em sua vida. Sei que ele não sentia o meu tato, mas acariciei os seus
cabelos até ele se acalmar.
Fechei os olhos e respirei bem fundo e depois caminhei para a cozinha a
fim de sentir o cheiro novamente do tempero da Sofia. Ela era uma
senhora negra, delicada, forte e bondosa. Já estava há muitos anos com a minha
família. Era a única pessoa que sempre me entendia. Ela dizia para a
minha mãe que não precisava se preocupar com a forma com que eu me comportava,
pois tudo é uma questão de fase. Logo eu iria amadurecer e a vida me ensinaria,
querendo ou não. Afinal, estamos aqui somente para aprender. Sábias palavras de
Sofia, que sem saber, estava fazendo jus a seu nome, ou seja, sabedoria.
Sentei-me à mesa do jantar
e logo a imagem do ambiente ia dissipando seus pixels coloridos, enquanto
outra, aos poucos, surgia à minha frente. Era uma cena da noite de natal
quando ainda era adolescente. Eu estava sentada ao lado de meu pai e de frente
para a noiva de meu irmão mais velho, Tomás.
Naquela noite, fiz de tudo para irritar Susana. Este era o nome dela. Não
queria vê-la participando de minha família. Achava que meu irmão merecia coisa
melhor. Não que eu tivesse algum motivo real contra ela, simplesmente não a
queria por perto. Então, aproveitei o momento que ela estava sozinha na
varanda. Aproximei-me e disse: "
Você não é bem-vinda em minha família. Não percebe?" Depois
disso, saí sem olhar para trás.
Sentada à mesa e revendo aquela imagem, a princípio não entendi a necessidade
da recordação daquele natal. Mas, depois com a outra que surgira, entendi
e ao mesmo tempo me surpreendera. Na imagem, Tomás estava muito deprimido
porque Susana havia terminado o noivado.
Agora entendo o motivo de uma viagem urgente de meu irmão para o
exterior. Meus pais decidiram tirá-lo de perto de Susana, porque ele estava
sofrendo muito com a separação e o desprezo dela.
Ao ver e relembrar-me de todos os detalhes, fiquei péssima. Nunca
imaginei que pequenos atos, muitas vezes, impensados, acabavam provocando
grandes mudanças nas vidas das pessoas. A sensação que tenho é que tudo está
interligado. Portanto, uma ação provoca um resultado em cadeia e com o tempo,
este movimento lançado, acaba voltando para nós. É como se estivéssemos em um
ciclo.
Já sei! Você vai me dizer aquela famosa frase: " Toda ação, gera uma reação." "Não se pode ir contra as
leis do universo." Não é caro
leitor?
A nossa querida Sofia sempre falava: " O que se planta ,colhe em dobro." Nós ,quando crianças, não
entendíamos o que ela queria dizer. Então, Sofia, em sua sabedoria e
simplicidade, citava este exemplo: "
Quando se planta um caroço de feijão, uma planta nasce e produz muitas vagens.
Dentro dela se encontra muitos outros caroços. É assim que acontece também com
as coisas que fazemos nesta vida.
De repente, o som de uma música leva a minha atenção
para a sala. Vou andando pelo corredor bem devagar e encontro minha tia Nina,
sentada com toda elegância, em frente ao piano. Seus dedos deslizavam nas
teclas com tamanha suavidade e desenvoltura. Ela estava me esperando para as
aulas de canto.
Lembro-me que, muitas vezes, não queria descer para as lições, pois tinha medo
de errar alguma nota. O meu desejo era tamanho pela perfeição, que não queria
que ninguém ouvisse alguma desafinação. Tinha medo que as pessoas me
considerassem sem talento para o canto lírico.
Fiz aulas com minha tia por um bom tempo. Acho que
mais ou menos dos 11 aos 15 anos de idade. Depois fui para o conservatório, que
ficava em uma cidade vizinha, a fim de aperfeiçoar-me por mais dois anos.
Depois, eu iria para o Conservatório Superior, na capital de nosso país.
Naquela época, eu sonhava cantar nas grandes óperas do mundo, como
fez Maria Callas. Você não imagina como adorava ouví-la. Meu corpo ficava
paralisado quando meus ouvidos detectavam a sua acutíssima voz.
Fiquei no Conservatório de música um ano e pouco e dizia a todos
que seria uma cantora profissional. Vou confessar-lhe algo. Quando comentei isso, apenas meus pais e minha
tia Nina me apoiaram. As minhas amigas diziam que: "Eu iria morrer de
fome. “ Que os artistas só vivem em
praças exibindo seus talentos para os pombos". "Que eu deveria tomar
juízo e ter uma profissão promissora como médica, juíza, empresária..."
Cada comentário que eu ouvia me deixava ainda mais desanimada e, ao mesmo
tempo, afastava-me da música. Às vezes, eu pensava: " Como podem dizer essas coisas se essas pessoas nunca me viram cantar.”
Mas, nem precisa dizer qual foi o
caminho que escolhi, né? Afinal, tornei-me uma jornalista de 2ª, 3ª, ou sei lá,
de qual categoria. Também, quando escolhemos nossa profissão sem ser com o
coração, acaba dando nisso.
Hoje, mais madura, quando lembro minha tia tocando com tanta felicidade o
piano, o arrependimento me invade. Percebo que nunca deveria ter deixado de seguir
o meu sonho. Jamais deveria ter dado atenção a pessoas que nunca acrescentaram
nada em minha vida. Não percebia que eram apenas personagens coadjuvantes
tentando interferir nas cenas do espetáculo.
Uma coisa me passou pela cabeça agora. Sabe, acho que coadjuvantes não gostam
do personagem principal em uma história. Afinal, o público está mais voltado
para o protagonista nas cenas. Se naquela época eu tivesse a maturidade e
sabedoria que tenho agora, teria percebido que opiniões alheias não eram para a
minha felicidade. Afinal, sou a protagonista de minha história, sou a dona da
minha vida e do meu destino. Talvez não seria uma Maria Callas, ou uma
Montserrat Caballé, entre outras grandes cantoras líricas. Mas, na minha
humilde carreira, seria muito feliz, pois estaria fazendo uma coisa que me
preenche e, ao mesmo tempo, me faz vibrar em uma frequência mais alta.
Uma vez ouvi de uma amiga que, quando passamos a ter
mais compreensão e sabedoria, começamos a desapegar de tudo e de todos. Ela
contava que nesse processo e todos nós somos submetidos a passar por ele, mas
por ser uma coisa muito dolorosa e difícil, a maioria desiste durante o
percurso. Mas, ela dizia: “ quem persiste
nessa enfadonha fase, quando chega ao final, começa a ter um campo
energético vibrando com ondas em alta amplitude. Portanto, o
resultado seria a atração de coisas boas, as quais merecemos.”
Lembro-me ainda que, no final dessa conversa, ela fez uma observação bastante
interessante: " As pessoas que
conseguiram passar por essa fase, geralmente se tornaram grandes líderes, mas
viviam em prol do outro e sempre servindo."
Outro ponto que ouvi sobre a evolução humana, vem do conhecimento dos povos
antigos como: egípcios, maias... Eles pregavam que a terra passava de tempos em
tempos por 4 períodos que são o do ouro, prata, bronze, e por último, o
ferro. Então, o melhor, sem sombra de dúvidas, era o áureo. Nessa fase,
todos os seres estão no grau mais alto de evolução e desenvolvimento, tanto
intelectual quanto tecnológico. Penso que seria interessante se tudo isso
fosse verdade, pois deixaríamos de viver de forma tão animalesca nesse planeta.
Deve estar se perguntando. E o sonho? Vamos continuar então.
Após rever as imagens de meu sonho, como cantora lírica, tudo se
escureceu à minha volta. Tive a sensação de estar perdida em um vácuo. Com
isso, minha mente foi dominada por esses pensamentos: "Agora que já presenciei e tive consciência das atitudes infelizes
de minha vida, devo ter sido julgada e mandada para o purgatório. Conclui que
aquela deveria ser a passagem entre duas dimensões. Senti terra firme sobre os
meus pés e respirei aliviada e sussurrando: “
Ainda bem que não fui mandada direto para o inferno. Também, as coisas que fiz
lá na terra não eram tão bizarras assim, a ponto de ser mandada para o reino de
Hades.”
Após
alguns instantes de pura apreensão por estar naquele lugar
desconhecido, apareceu ao meu lado esquerdo um ponto de luz. Ele lutava contra
aquela tamanha e absurda escuridão. Era uma luta desigual, mas o ponto
não desistia. Comecei a admirá-lo, por sua persistência e coragem. Afinal, ele
era único e parecia tão frágil lutando com toda aquela imponência escura à sua
volta. Tive a sensação que, a qualquer momento, ele seria esmagado. Mas, o
pequeno, aos poucos, dobrou de tamanho. Ele expandia de forma tão
desordenada e rápida. À medida que se aproximava de mim, mais rápido desenvolvia,
até que se transformou em uma luz muito forte. Levei rapidamente as mãos ao
rosto a fim de proteger meus olhos que ardia intensamente.
De
repente, meu olfato foi dominado por um cheiro suave que me lembrou a
flor de maracujá. Ainda com os olhos
fechados, deixei meu corpo sentir aquela sensação de paz e segurança naquele
momento transmitida. Não queria mais abrir os olhos, pois tinha receio de
perder o contato com aquelas sensações.
Fiquei em êxtase por alguns instantes, até que ouvi
o sussurrar de meu nome por uma voz feminina. Olhei e percebi que aquela luz,
agora fraca, estava se materializando em uma pessoa. A princípio, fiquei
assustada, pois pensara se aquilo era alguma fada ou um espírito. Porém, a
sensação de paz era tamanha, que logo me tranquilizou. Sentia que aquele ser
ainda meio fantasmagórico não me faria qualquer mal.
Mesmo sem se materializar-se totalmente, aquela luz estendeu seu braço em minha
direção e fez sinal para que eu a seguisse. Mas, não conseguia me mover e nem
dizer uma só palavra. Então, senti meu corpo aquecendo. Rapidamente aquela luz invadiu todo
ambiente e ví uma mulher morena de mais ou menos 48 anos me observando e
sorrindo. Sorri sem entender o que estava acontecendo. Logo, ela sentou-se em
uma grande pedra e fez sinal com as mãos para que eu sentasse a seu lado.
O lugar era lindo e tranquilo.
Então, ela resolveu quebrar o silêncio: " Sempre quis conversar contigo, minha filha!" A voz da mulher
era tão suave e terna que lembrei do carinho de minha mãe, principalmente quando
ela me colocava em seu colo, a fim de dar-me atenção, compreensão e amor.
Não conseguia dizer nada por isso ela continuou: “ Mas, você estava tão ocupada com coisas fúteis, que por mais que eu
gritasse, jamais iria conseguir me ouvir."
Tentei dizer algo. Porém ela continuou me olhando
sempre firme que não conseguia ordenar as palavras em minha mente: " Não diga nada, apenas escute. Está ouvindo o
som das águas naquela pequena fonte?"
Olhei e percebi que bem ao meu lado havia uma fonte, a qual nem notara que
existia. Com isso, resolvi observar o que tinha à minha volta. Não era nenhum
ambiente estranho. Era apenas uma clareira em uma mata tropical.
Senti então o frescor da brisa e seu barulho nas árvores. Ouvi um canto
diferente e identifiquei que era do sabiá laranjeira, mas logo se calou. Aquele
silêncio estava me deixando agitada, por isso resolvi falar algo: “Aqui é o purgatório? Se for, onde estão as
almas pedindo misericórdia divina? Eu sei que o purgatório é o lugar no qual
muitas almas são submetidas à justiça divina, quando deixam a vida lá na
terra.”
A mulher,
como sempre sorrindo, olhava-me como se eu fosse apenas uma criança inocente,
porém mantinha-se em silêncio. Era tão misteriosa, vestindo aquela túnica
de um tecido tão fino na cor azul ultramar.
Assim que parei de observá-la, ouvi novamente sua voz rompendo o silêncio
que já estava começando a me entediar: " Por que você está tão preocupada com a morte? É uma coisa tão natural
quanto nascer. Ela é necessária para que o velho possa dar lugar ao novo. Saiba
que morrer não é o fim e sim o começo de todas as coisas."
Lembrando-me dessa conversa com a mulher que se intitulava Estrela do Mar,
ocorreu-me na memória um comentário que ouvi de uma amiga de minha mãe: " Tem um povo que quando ocorre um
nascimento entre eles, todos choram, pois sabem que aquela criança irá
passar por momentos muito difíceis ao logo da vida. No entanto, ocorre o
contrário quando alguém deixa a vida terrena. Logo, eles comemoram a morte, pois chegou o fim do sofrimento daquela
pessoa."
Voltemos à mulher do sonho. Ela falava comigo sobre morte,
mudanças, fim... Ela disse praticamente a mesma coisa que a cartomante
tinha dito. Então, comentei com ela: "
Como não vou me preocupar com tudo isso? Se estou ainda viva, então me
diga como irei recomeçar já próximo à terceira idade?"-
ela levantou-se, olhou para o sol e
sorriu.
Aquela conversa estava difícil, pois a mulher ficava só ficava com meias
palavras. Muito enigmática para meu gosto. Após este pensamento, confesso a você, parece
que ela tinha o poder de ler a minha mente. Preste atenção no que
escutei: " Filha, você é tão nova.
Está apenas no início de seu aprendizado nessa eterna caminhada para a
evolução. Concentre-se apenas em viver a cada dia como se fosse o único.
Observe tudo a seu redor e sinta a beleza de toda a natureza. Vou te contar um
segredo. Essas complicações em sua vida, são frutos de uma mente dominada
pela matéria. Portanto, a maioria desses problemas estão em sua cabeça.
Portanto, são frutos de uma mente ainda primitiva e fácil de ser manipulada.
Você nunca deve deixar que os pensamentos desagradáveis dominem a sua
consciência. Sabe, as pessoas geralmente esquecem que são elas que controlam os
seus pensamentos. E sei, também, o motivo pelo qual isso ocorre contigo. Ter o
controle mental dá trabalho. Então, é muito mais fácil deixar ser
controlada ou guiada pela situação ou por outra pessoa. Entenda que, tomar as rédeas da situação, requer muita coragem, esforço e
disciplina. Muitos nem percebem que isso ocorre em suas vidas, pois
ainda não foram chamados para uma interiorização. Como disse certa vez um filósofo
“conheça-te a ti mesmo' ".
Depois de ouvir tudo aquilo, eu fiquei sem argumentos. Tive a sensação de ter
sido bombardeada por aquelas palavras. Com isso, precisei de um tempo
para digerir tudo que ouvira. Acho que ela percebeu a minha necessidade de
solidão. Então, calou-se e foi tocar as plantas que cresciam rapidamente
ao nosso redor.
Não é fácil quando uma pessoa
aponta algum defeito que temos. É uma situação muito constrangedora e, ao mesmo
tempo, decepcionante olharmos para o nosso lado obscuro. Encararmos a nós
mesmos é uma tarefa que requer muita coragem e vontade de fazer o melhor. Tentar
consertar o que não está dando mais certo é para poucos. Era isso que aquela
mulher estava tentando fazer comigo. Com aquelas palavras, ela queria
acordar-me para a realidade de minha existência. Mas, como ela mesma tinha
falado minha mente ainda estava em um
estágio primitivo. Portanto, compreender e ao mesmo tempo dar valor àquela conversa era uma coisa
bastante difícil para mim, principalmente naquela época.
O sentimento que começara a surgir dentro de mim com aquele diálogo era de
revolta e indignação. Então, comecei a questioná-la. Não poderia ficar tão por
baixo assim. Afinal, precisava justificar as minhas atitudes. Como um ser
pensante sempre analisei muito as coisas antes de tomar qualquer decisão.
Afinal, se errei, foi tentando acertar. Por isso, quis saber mais coisas, por
isso perguntei " Quando foi que
tentou se aproximar de mim e eu não estava aberta para esse contato? Por que não foi mais
insistente comigo? Você iria me ajudar em quê?"
Mais que depressa, ela virou-se para mim e sua boca não se movia. Mas, acredita
que eu conseguia entender o que ela me falava? Parecia que a comunicação estava
acontecendo entre as mentes. Você já pensou como seria se conseguíssemos nos
comunicarmos assim? Neste exato momento caro leitor(a) eu não precisaria forçar
os meus dedos neste teclado para que essa comunicação ocorresse entre nós.
Talvez, essa situação (contato entre mentes), se tornasse constrangedora, ou
interessante. Quem saberá nos responder? Imagine você ao chegar perto de uma
pessoa que gosta muito e entrar na frequência de seus pensamentos e de repente,
ops.... Seria complicado encontrarmos ela pensando algo ruim a nosso
respeito. Não concorda? Acredito que, se tivéssemos esse poder, haveria muita
confusão no contato entre os seres humanos.
Depois do sonho, ouvi uma pessoa comentando em um
programa de tv popular, que havia passado por uma experiência bastante
enigmática. Ela estava muito doente e os médicos deram-lhe pouco tempo de vida.
Então, já conformada com a situação, resolveu fazer tudo que tinha vontade na
vida, porém nunca teve coragem.
Com o passar do tempo, em uma noite, essa
pessoa disse a si mesma que já poderia partir, pois já estava satisfeita com
tudo que vivera. Naquele instante, apareceu-lhe um ser nunca visto antes. Ele
era comprido e magro. Sua roupa era branca e se estendia até o chão. Aquele ser
ficou bem na frente dela e disse que iria dar duas opções: uma que poderia
segui-lo e deixar a vida na terra, ou poderia ficar e conviver pelo resto
da vida com aquela doença.
No comentário com o apresentador, a mulher falou que
aquele ser não movia os lábios, ou seja, a comunicação era feita só através dos
pensamentos. Agora, o resultado da escolha dela você já sabe, pois se ela estava contando esta história. Comentei
este fato para que tire as suas conclusões sobre esta possibilidade. Se isso
realmente tem chance de ocorrer.
Voltemos ao sonho. Durante aquele silêncio
da Estrela do Mar, fiquei pensando se o meu questionamento havia a
deixado sem palavras. Mas, com um movimento rápido ela se aproximou de mim. Então,
estendeu a mão e guiou-me através de um portal que refletia muita luz. Com isso
meu olhos ardiam de novo.
No
momento em que o atravessamos, percebi que estava em um corredor cheio de
quadros enorme, deixados no chão, bem
próximos à parede.
Cada imagem daquelas grandes telas exibiam partes de minha vida. Olhei
assustada para as obras e quis saber quem era o artista: " Todas foram feitas por você. Os seres
humanos, todos os dias, pintam na tela do grande universo as suas mais variadas
histórias. Suas vidas são tão importantes que se tornam obras de artes belas
nas particularidades e excentricidades da vida de cada um." Explicou
ela.
Não entendi, a princípio, o motivo de ter sido levada naquele lugar. Afinal,
eram muitas passagens difíceis de minha vida. Contudo, ela concluiu: "Olhe no topo à direita de cada tela. Veja
que estou sempre perto de você."
Fiquei surpresa ao ver a imagem que estava à minha frente. Nunca imaginei que
isso fosse fator tão relevante ou que fizesse qualquer diferença em minha vida
ou de qualquer outra pessoa. Jamais acreditei nessas coisas que minha avó tanto
gostava. Portanto, acreditava que isso era uma necessidade humana de se
justificar nesse planeta. Como nunca vi nada de concreto em relação a essas
coisas, então, jamais dei muita atenção à minha espiritualidade.
No canto direito de cada tela com cenas de minha
vida havia a imagem de uma pequena igreja, porém sua forma não dava para
distinguir de qual religião era. Apenas era um símbolo de um lugar que refletia
espiritualidade. Parecia um lugar ecumênico. Mas, confesso que fiquei bem surpresa
com aquilo.
A mulher novamente olhou-me e sorriu com a minha expressão de pessoa perdida.
Depois, ela caminhou bem devagar e segui
cada passo que dava a minha frente. Eu seguia
pelo corredor observando cada cena e ao mesmo tempo, ouvindo a voz serena da
Estrela do Mar:” Sei que a vida não é
fácil. Porém, você está na terra por um único objetivo, aprender. São sempre
testes árduos a que você será submetida. Mas, se isso te servir de consolo,
lembre-se sempre: os testes mais difíceis só são dados para os melhores alunos.
logo, se pensar bem, verás que se for muito fácil, não terá tanto valor assim.
Concorda?"
Pausa.....
Você deve ter ficado impaciente pelo meu silêncio. Pela
falta de relato dos acontecimentos seguintes. Mas não precisa ficar irritado,
já vou lhe explicar. Bem.... Quando relembro essa parte do sonho, geralmente
necessito de um tempo para me recuperar. Então, o silêncio me invade a fim de
analisar mais um pouco os acontecimentos. Preciso observar se nada de
importante, ou se nenhum detalhe daquele momento deixou de ser notado por mim.
Não sei se percebeu, mas, às vezes, só com o passar do tempo é que
as coisas vão clareando em nossas mentes. Precisamos nos acalmar da
correria diária, para que possamos nos concentrar e entender, realmente, o
sentido dos fatos. Talvez, essa minha ausência também fora benéfica para você.
Sabe que o acaso não existe, pois tudo tem sua razão de ser. Se está tendo
paciência em conhecer esse relato é porque alguma coisa em seu interior
está necessitando de atenção e não está tendo a chance de se
mostrar. A princípio, temos medo de ver o que temos escondido em nosso interior.
Mas, assim que vamos familiarizando com o "escondido" com os “monstros”
de nosso interior, percebemos que o ele é bem menor do que imaginamos.
Esse ser tão temido, muitas vezes, acaba sendo o nosso herói, pois é ele
que nos liberta de nossas neuras e fraquezas.
Não vou me estender mais. Vou voltar logo ao sonho. Só parei para esse
comentário, porque o chamado daquela noite de 31 de Outubro, breve estará em
suas cenas finais.
Estrela do Mar, após ter feito o percurso daquele corredor
comigo, viu que eu estava muito angustiada. Percebeu, sem eu mencionar uma só
palavra que, após ter visto retratado naqueles quadros todas as cenas mais
importantes de minha vida, eu estava sofrendo. A dor me invadia, pois queria
ter feito muitas coisas diferentes. Queria poder voltar e recomeçar.
Necessitava viver o passado novamente mas com a experiência até então
adquirida. Porém, aquela senhora,, tão terna e com o seu amor de mãe, consolou-me, em sua sabedoria, com as
seguintes palavras:" Tudo que
você viveu não foi em vão. Em todos os momentos, você adquiriu conhecimento e
aprendizagem. Então, não precisa voltar ao passado, a fim de fazer tudo
diferente. Basta apenas, construir
coisas especiais de agora para frente. Portanto, ainda tem muitos anos para ser
feliz, e ao mesmo tempo, ser importante para o mundo. Use a sua experiência para ajudar àqueles que estão trilhando o mesmo caminho
que você ousou passar. Estenda a mão a todos que estão em um nível de
conhecimento inferior. Afinal, esteve também nesse nível e viu o quanto é
doloroso. "
Com aquelas palavras eu chorava tanto, que não
conseguia pensar em nada. Então, com um forte abraço, ela disse : Estou indo, mas ficarei sempre a seu lado.
Agora é hora de retornar e terminar a sua caminhada. Breve, nos veremos
novamente. Lembre-se sempre que você é uma luz no mundo. Então, use a sua
essência e seja protagonista de sua maior obra artística que é a sua
vida.
Esfreguei os olhos e senti a textura da seda de meu
travesseiro roçar minha pele. A fronha estava úmida e um pouco fria. Mas, isso
não tirou-me a paz que estava dominando minha alma. Respirei fundo e a alegria
invadiu meu corpo. Percebi que o sol estava batendo sua energia em minha
janela. Ele estava ansioso para entrar no meu quarto e fazer parte daquela onda
de vibração positiva.
Enfim, acordei com uma grande vontade de viver. O entusiasmo estava fazendo
parte de todas as células de meu corpo. Após uma boa chuveirada, marquei uma
visita ao salão de beleza, e depois fui até uma igreja que havia na esquina
mais ou menos uns dois quarteirões. Agradeci a Deus por não ter desistido de
mim. Ao sair, olhei para umas imagens que estavam próximas à porta e ví sorrindo,
com a mesma ternura, a bela senhora Estrela do Mar. Só que ali ela recebia o
nome de " Maria, mãe de Deus."
Bem! Depois de todo esse tempo juntos, creio que você nem importa quem
sou. Também, se eu te disser, será apenas um nome. Talvez, eu seja todo mundo,
ou ninguém. Uma luz ou um ponto de interrogação... Creio que, o mais
importante nisso tudo, é estarmos juntos, trilhando o caminho para uma evolução
plena.
MARI SILVEIRA
MARI SILVEIRA
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